quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cá-ca-rá-cá-cá-cá... cá-cá...

Até nem me importarei de pagar mais impostos.

Pago-os porque a lei o impõe e a consciência me dita que o devo fazer para beneficiar do meu estatuto de cidadão. Cidadania compreendo.

Este estatuto deveria assegurar-me a tutela que considero fundamental para a manutenção da sociedade em que estou inserido. É para isso que pago impostos, que sou sugado pelo colectivo que sinto alimentar numa percentagem bastante injusta, principalmente porque sagra a precariedade. A justiça é precária; a educação é precária; o trabalho é precário; a saúde é precária obrigando-me a preteri-la sempre que possível pelos serviços de privados autónomos, como eu, que também não tenho tempo para aguardar sem ela nem a cura, meses a fio, o que protelaria o meu bom desempenho fiscal, e sem ressarcimento que me reconheça o esforço; a assistência social não foge à regra; agora a economia é precária também. Só a contribuição dos cidadãos parece evadir-se a esse modelo.

Se para além dos contributos que me exigem, sou ainda vítima da acção de grupos de meliantes que me roubam o que resta, e de onde como, e que coloca em perigo a minha integridade física e psíquica, ou a dos meus, a minha função social começa a parecer-me principalmente uma obra de caridade pela qual não estou a ser suficientemente agraciado.

Já quero saber pouco de que partido ocupe a cadeira do poder. Mas parece-me que, seja qual for, desde que viva da caridade alheia para assegurar o comando das operações, deveria abandonar a arrogância e a prepotência, sob pena de nos estar a tornar a todos em meros servos revoltosos.

Algo estará profundamente errado se diariamente nos sentirmos inseguros, ao executarmos as tarefas normais do dia-a-dia, sempre a olhar para o lado à espera da próxima extorsão ou da próxima violência.

Não sei bem como, mas há grupos de ladroagem a agir no metropolitano de Lisboa. Nas ruas também me levaram quatro rodas, que me trocaram por tijolos de que não precisava. Atacam diariamente. Não creio que a sociedade devesse consentir que quem quer que fosse pudesse ser assaltado ou roubado em locais de utilidade pública, no decurso da sua vidinha normal e contributiva, sem contrapartida. Principalmente quando eu tenho de pagar quando falho.

Antes de gastar, investir, orientar em processos mais ou menos duvidosos que envolvem riscos típicos da acção dos privados em busca de mais-valias de seu exclusivo risco e responsabilidade, como eu faço, entendo que o Estado assim pseudocapitalista, que não me suporta financeiramente, deveria cuidar das suas galinhas-dos-ovos-de-ouro; nós os contribuintes, caso não tenham reparado.

Se temos de encarar esta realidade como normal, pelo menos que conste na declaração de imposto uma dedução específica, mais que justa, onde figure a totalidade do património lesado porque, pela fatia que me toca, sem indemnização ou amortização equitativas estou a ser diferenciado. 


Até esse dia, em que haja um pouco mais de justiça social, cá fico a aguardar pouco pacientemente a próxima punhalada, de mãos e pés bem atados, que também nisso este tutor é inexorável, concedendo o direito de defesa apenas a quem nada tiver a perder.

Já estou quase lá.



© CybeRider - 2010

19 comentários:

escarlate.due disse...

nem precisava comentar este texto porque já emiti a minha opinião - coisa que raramente faço na blogosfera quando se trata de alguns temas como politica, não por receio mas porque o espaço é sempre curto para grandes temas como politica, religião e outros - e para bom entenderor meia palavra basta, a partir de determinada altura só mesmo com acções porque as palavras ficam gastas.
e, como sabes, é esta última questão que me assusta realmente, a das acções porque as palavras se gastam... e não acredito que desta vez haja cravos que as substituam.

sempre paguei os meus impostos até ao último centavo, a tempo e horas, até porque também não teria como lhes fugir, já que nem chego a por-lhes a vista em cima.
não contesto o pagamento, têm razaõ de ser no processo de gestão económica de qualquer país.
mas estabeleço paralelo com o que afirmei (e afirmo) aquando da polémica das propinas universitárias: não é o pagamento que está em causa mas a aplicação dessas verbas! na altura defendi (ainda defendo) que as propinas devem ser pagas e em troca há que exigir (isso sim!!) boas bibliotecas, bons professores, bons equipamentos, boas salas, bons refeitórios, bons alojamentos, and so on. chama-se gestão!
e no caso dos impostos é exacatamente isso que contesto: gestão!!
paguei impostos ao longo de toda a minha carreira, era suposto não terem que aumentar a sua duração por falta de verba! paguei impostos ao longo de toda a carreira, era suposto não precisar pagar do meu bolso a totalidade da minha sobrevivência quando tive (tenho) de lutar por ela! era suposto nunca temer que um dia me falte comida na mesa! era suposto não partir o carro no buraco da estrada! era suposto nunca correr o risco de viver debaixo da ponte! eram supostas muitas outras coisas semelhantes porque afinal eu tenho trabalhado toda a vida não vivi à custa de subsidios nem roubei ninguém e toda a vida paguei os meus impostos portanto contribui para o bem-estar desta sociedade.
eu contribui!!! se alguém não o fez, vão lá cobrar o que é devido!! e se outros alguém andou a usar verbas indevidamente que as reponha!! e se outros alguém não souberam gerir as verbas que são (!!) dos portugueses e não suas, então que preste contas da sua incompetência! e se não há neste país alguém que o saiba gerir... então vendam a porra do país a quem saiba mas não matem um povo inteiro!!

(desculpa, acho que nunca escrevi um comentário tão longo e desculpa pelo palavrão que não vou retirar)

CybeRider disse...

Olá Escarlate!

Tenho de te agradecer a classificação. Isto porque não escrevia sobre política, talvez tenha de admitir então que estou a mudar...

É certo que a política se entrosa de tal maneira na nossa vida que tudo o que reclamemos poderá ser afinal sobre isso. Independentemente de alguma ideologia que involuntariamente subjaza, e ressalvo que o meu modelo favorito, para além de definições curriculares, se define pelo modo independente como se exercem os direitos, liberdades e garantias individuais, em complemento aos deveres decorrentes; resultando destes factos as relações orgânicas e administrativas que enformam a direcção de um Estado, não passando de uma falácia oca acerca de sujeição versus totalitarismo quando assim não seja, daí que não escreva sobre política. E agora estou a ser político, ao optar nítida e tendenciosamente por um modelo utópico, que até tem nome... Mas adiante, que a realidade é que nos dobra. A ideia do texto é mais simples. Não poderei pagar se me tirarem o sustento. No feudalismo até entenderia a presença do cobrador de impostos à maneira que o temos agora, poderia não haver forma de apurar o verdadeiro pecúlio do tributado. Hoje já não; o Estado deveria ter em conta que o custo da reposição de situação danosa derivada do mau funcionamento dos seus orgãos nos deveria ser creditado. E isto não é política, é justiça. Não a justiça dos homens que será sempre a que está na lei, mas a justiça natural que se bebe da lógica. Se eu produzo 200 e me roubam 100 porque o sitema falhou, será injusto que pague impostos sobre 200.

Incluo aqui todos os privados que têm de pagar sobre facturas emitidas que não lhes foram pagas, tanto como o cidadão a quem o larápio rouba o salário no meio da rua. Não tem cabimento que se pague sobre o que não se tem, principalmente quando o sistema é falível.

Se os tribunais funcionassem... Se a minha defesa fosse independente das minhas posses... Se o acto de me defender não me custasse, tanta vez, mais do que o dano causado...

São demasiados "ses"... Quero a reposição do que me é subtraído à revelia da lei do Estado, porque o que roubam ao Estado me está a ser cobrado a mim, que não posso minar a minha terra cultivada porque o Estado é quem assegura, por lei, a minha segurança enquanto cidadão.

E isto é pura justiça, independentemente da forma como se organize, dirija ou administre o Estado português. É a nossa condição humana que o exige.

escarlate disse...

oh Cyber perdoa-me mas... dizer que este não é 1 texto politico... hum... é o mesmo que dizer que quando reclamo justiça não estou a falar de sociedade :)

"Pago-os porque a lei o impõe e a consciência me dita que o devo fazer para beneficiar do meu estatuto de cidadão"
isto não é politica?

"É para isso que pago impostos, que sou sugado pelo colectivo que sinto alimentar numa percentagem bastante injusta, principalmente porque sagra a precariedade."
nem isto?

"A justiça é precária; a educação é precária; o trabalho é precário; a saúde é precária (...)a assistência social não foge à regra; agora a economia é precária também. Só a contribuição dos cidadãos parece evadir-se a esse modelo."
ainda não estamos a falar de politica?

"Já quero saber pouco de que partido ocupe a cadeira do poder. Mas parece-me que, seja qual for(...) sob pena de nos estar a tornar a todos em meros servos revoltosos."
ainda não?

"Não creio que a sociedade devesse consentir que quem quer que fosse pudesse ser assaltado ou roubado em locais de utilidade pública"
não?

"Antes de gastar, investir, orientar em processos mais ou menos duvidosos que envolvem riscos típicos da acção dos privados em busca de mais-valias de seu exclusivo risco e responsabilidade, como eu faço, entendo que o Estado assim pseudocapitalista, que não me suporta financeiramente, deveria cuidar das suas galinhas-dos-ovos-de-ouro; nós os contribuintes, caso não tenham reparado."
era mais fácil copiar o texto na integra :)

tem razão Cyber, não estamos a falar de politica... estamos a falar de sociedade...

uma sociedade é um grupo de sujeitos que compartilham interesses e possuem objectivos comuns. ora isto aplica-se a definição de país, não?!

por outro lado, a palavra politica vem do tempo dos gregos que se organizavam em cidades-estado, regiões que eram controladas por uma cidade, compartilhando inetresses e objectivos comuns.

parece haver alguma intercepção nos termos, não é?! e há mesmo! :)

tem razão Cyber, não estavamos a falar de politica, estavamos a falar de sociedade... a sociedade portuguesa, o conjunto de individuos que pertencem a um mesmo páis que supostamente tem valores, crenças, tradições que compartilham... ou seja têm uma cultura e objectivos que lhes são comuns.

o conjunto de cidadãos forma a sociedade de uma região - um país - e um país rege-se por leis comuns - tal como a pólis (cidade-estado). a pólis que deu origem à actual palavra politica...

sim, estavas a falar de sociedade :) ou de pólis... :)

quem falou de politica fui eu :)

kredoooo até parece que estou a dar alguma aula quando afinal sei que aqui aprendo sempre mais do que possa ensinar...


(nem vou ver mas isto deve ser outro dos tais comentários que justificam porque é que prefiro não falar de politica na blogosfera... o espaço é tãooooo curtooooooo)

e hoje permita-me deixar-lhe 1 respeitoso beijo

Chapa disse...

Agrada-me essa ideia de uma dedução fiscal, para os custos da ladroagem. Há muito tempo que não encontrava uma ideia nova, de tão premente justiça. Continuas em forma.
Um abraço

Nirvana disse...

O que eu acho, Cybe, é que essa insegurança vai aumentar, tal como os roubos, etc, etc. Da maneira que isto se encaminha, da maneira que, aliada à cada vez maior pobreza económica aumenta a pobreza de valores e respeito pelo próximo, não espero outra coisa.
Não é só em Lisboa que isso acontece. Aqui é a mesma coisa. Uma amiga minha deu com os vidros do carro partidos e o conteúdo deste vandalizado duas vezes no espaço de uma semana, numa rua em plena luz do dia.
Em relação à contribuição fiscal (fica bonito assim, acho eu) já nem digo nada. Entendo que os impostos são necessários, entendo tudo isso. Mas não entendo que atirem à cara das pessoas que acham muito bem que descontem muito porque ganham mais. Nem sempre será o caso, mas talvez, talvez se esforcem muito para o fazer, e talvez não achem assim tão bem ver metade do seu ordenado voar não sabem bem para quê, porque não vêem nada melhorar, muito pelo contrário. Por mim, até me apetece trabalhar menos, ficar num escalão mais baixo e trazer o mesmo dinheiro para casa. Já fiz as contas e dá certo. E ganho tempo livre.

Beijinhos, Cybe

CybeRider disse...

Olá Escarlate,

Leio o teu comentário e fico a pensar que de facto é difícil separar a coisa política de tudo quanto sejam as demais ciências sociais. O entrosamento de uma nas outras é praticamente indissociável.

Até por isso as hipocrisias com que nos deparamos diariamente na separação de tantas águas não passam de meras atitudes que não pretendem senão tapar-nos o Sol com a peneira. Vejo tanto engravatado a falar nos media da separação que deveria existir entre justiça e política, que acabo por ficar contaminado por essas variações semânticas, e mesmo por acreditar que essa utopia teria alguma razão de ser.

Não importa, pelo que dizes, tentar estabelecer essa diferenciação que talvez afinal nem tenha razão de existir, porque não pode haver acto social que não seja um facto político, e a justiça existirá, por um lado, para que esse relacionamento político possa ter garantias -por forma a que se possam estabelecer as expectativas que assegurem o bom funcionamento da própria sociedade- por outro para assegurar a coercividade, sem a qual as regras dificilmente se fundamentam.

Ainda bem que vieste, de futuro terei mais cuidado com quem tente estabelecer essa diferenciação aos meus ouvidos.

Tudo seria tão mais fácil se se acabasse com as demagogias e contornos semânticos com que nos tentamos iludir, assim como acabaste de fazer aqui. Seria mais simples chamar os burros pelos nomes, mas levamos tanto tempo a discutir a natureza das bestas que tardamos em lhes avaliar a utilidade.

Temos infelizmente governantes que ainda estão imbuídos da descoberta juvenil da defensabilidade de todas as teses. Gosto de os ver (longe...), sempre em rotas de contradição corrigidas por conceitos bastante dúbios e individuais. Talvez lhes tenha faltado o professor à altura de os esclarecer que os compromissos são superiores às palavras, que as expectativas existem para além do brilho que lhes colocamos conforme a cor com que amanhece o dia. Deveriam usar essa habilidade pueril para ajustar os ideais às expectativas que criam e não o inverso. "Aqui" pouco haverá a aprender Escarlate, eu próprio estou a aprender a livrar-me desses apetrechos, que tantas vezes usei para me escusar à minha própria responsabilidade. Tudo era defensável, e goravam-se assim todas as expectativas. Vou pensando de outra forma, se criar expectativas terei de alimentá-las se forem justas e plausíveis, a fuga pela porta de trás, se sempre possível, nunca é digna. Não devíamos ter tanto responsável a escudar-se na interpretação das palavras para dar o dito por não dito, porque a palavra é mera sombra do conceito.

O seu beijo acaba por por ser prémio de consolação que muito me apraz, porque o primeiro prémio é todo seu. A aula foi magnificamente esclarecedora. Retribuo-o por isso com deferência. :)

Mário Rodrigues disse...

Escrevia eu no longínquo ano de...

"Omeletas sem ovos...
Querer fazer omeletas sem ovos, já é sinal de alguma loucura, mas matar as galinhas é coisa de gente totalmente doida.
Há! Ok, foram eleitos...então está bem...

© Mário Rodrigues - 2009"

Um abraço

CybeRider disse...

Olá Chapa!
A novidade só existe porque quem mama está de pança farta. Se se acabasse a mama alguém encontraria o porquê da coisa, assim é só sugar a qualquer pretexto... A inovação nasce da necessidade. Caminhamos para uma sociedade muito inventiva.

CybeRider disse...

Olá Nirvana!
Eu já nem sei bem se tenho vaticínio. Sei que nunca vi isto assim, entristece-me que a segurança seja apenas mais uma manifestação do fortuito. A que temos, é cada vez mais por mero acaso, e isso não me parece segurança, é como andar num carro sem travões e esperar que não tenhamos o muro a seguir à curva.

Referes uma questão importante, mas é que numa grande parte dos casos o "ganhar mais" nada tem a ver com "trabalhar mais", isso também me inquieta. Não encontro justificação para que alguém que apanha o bom tacho ganhe de repente 5 ou 6 salários mínimos quando tanta gente que trabalhou toda a vida empenhadamente tenha de sobreviver com... E não possa bneficiar de coisas fundamentais. Não deixa de ser tudo honesto no exemplo, mas ainda assim não estou de acordo. Enfim, os desequilíbrios são muitos por razões várias, nem todas consensuais. Mas há coisas que saltam à vista e que deveriam ser corrigidas com urgência.

Beijinhos, Nirvana

CybeRider disse...

Olá Mário!

Escrevi um dia:
"O sábio que antes invejámos ao afirmar "só sei que nada sei", demonstrando clareza sobre a enorme variedade de conhecimentos que houvesse para apreender, face à diminuta capacidade do Homem para tal grandeza, hoje é o que apregoa ao vento "só sei que nada tenho"."

Tu és sábio Mário, e levam-te o que te resta... Serás então mais sábio. São os ignorantes que se controlam com facilidade, essa turba mole que nada desvia do pacato carreiro. Há quem não entenda que quanto mais me roubarem mais sábio me torno, e menos controlável também.

Abraço!

Mário Rodrigues disse...

Acho que é exactamente como dizes.

Um abraço

tempus fugit à pressa disse...

tudo é política, nada é a política

São os Apáticos (pode-se ser consciente mas não interventivo..) que se controlam com facilidade, essa turba mole que nada desvia do pacato carreiro....desviar para onde..esse é o problema

Há quem entenda que quanto mais nos roubarem mais pobres e mais dependentes ficamos, e mais controláveis também.
no seu caso talvez não dependa da manjedoura pública
700mil portugueses dos 4milhões que ainda têm emprego dependem....
é muita gente
num país de funcionários
há muita clientela a alimentar

CybeRider disse...

Olá tst oproprio! Bem vindo!

Não vou entrar na questão semântica, porque disso temos que abunde e nos adormeça. De qualquer modo a definição de "ignorante" surge por oposição a "sábio" em reporte a um outro texto mais antigo que por cá está.

Esse entendimento que refere terá de ter um limite, a sujeição sempre o tem, e a história tem-se encarregado de nos mostrar que assim é. Os escravos, as vítimas de racismo, enfim tantos... Só somos controláveis enquanto tivermos algo a perder. O desespero leva-nos eventualmente à rebelião, que pode durar muito tempo a acontecer mas que acaba por ser inevitável.

700 mil dos 4 milhões que ainda têm emprego... Então a grande maioria não dependerá, isso dá-me alento. Porém observo que mais de 500 mil estão desempregados, dependentes eventualmente do Estado também. Isso já prefaz 1,2 milhões... Começo a assustar-me... Falta adicionar os reformados... E as empresas que, sendo privadas, são contratadas quase em exclusivo para executar o bem público, e as que têm participação estatal também. Não ficamos muito longe da realidade se lhe disser que metade da população depende do Estado directa ou indirectamente para o seu sustento (não, não sou assim tão louco... e o número não é meu), mas isso é irrelevante. Quem produz para pagar isso, em maior precaridade que os dependentes do Estado? Dirão alguns que parte do sustento virá da própria actividade do sector público, porém a grande fatia advém dos especialistas em criar riqueza, que pouco sabem do governo de uma nação...

Não sou um sabotador, compreendo quem não morda na mão de onde vem o sustento. Mas dependo do Estado para a minha segurança, para a minha justiça, para a saúde, para a economia, para a educação. Produzo e estou incluído na sociedade. Que diferença faz que o Estado não seja meu patrão? (Antes fosse!)

E o futuro? Não tenho direitos? E é com medo dessa dependência a prazo que não me devo sentir descontente por gorarem as minhas expectativas e as da minha descendência?

Pago muito para ter também de me calar. Julgo que apontar a responsabilidade não é um direito mas um dever. Façamos os deveres, como aprendemos desde pequenos, só assim teremos obra a contento.

the dear Zé disse...

Quanto a este assunto, só não uso metáforas sexuais porque são uma injustiça para o sexo.

CybeRider disse...

Pois é Caçador,
Deste sexo também não gosto... Além de fazer doer muito o assento, nem me dão um beijo na boca... :(

Nilredloh disse...

Excelente texto, CybeRider, mesmo na "mouche"! Isto faz lembrar os impostos no tempo do Robin Hood... Portugal tornou-se na floresta de Sherwood, onde está Robim dos Bosques? Socorro!!

CybeRider disse...

Olá Jorge!

"É fartar vilanagem"- transmite a ideia. Não há Robin que nos salve, as setas que vejo dizem todas: "Finanças, por aqui"... E lá vamos, cantando e rindo...

Abraço

Gemini disse...

Olá CybeRider!

Em Portugal só há um estado, assim, com letra minúscula, como minúsculos são os que da política fazem uso, que a fazem andar na lama; é o estado a que isto chegou, como disse o Salgueiro há tantos anos, e que deve andar às voltas debaixo de uma terra que não via na altura como sua, e que está hoje ainda mais longe de ser.
Mas a culpa até é nossa, a Democracia é isso mesmo, um regime político que proporciona a um povo ter os líderes que merece. E o que temos feito nós desde o tal Abril de 74? Temos alternado entre os mesmos; se elegemos o mau damos depois uma oportunidade ao ruim, e quando o ruim se confirma, voltamos a tentar o mau que lá esteve antes, sabendo que depois dele voltará o ruim. Até um dia, como bem dizes, em que nada haverá a perder.
Não é Abril que falta cumprir, é o ano inteiro, o mês, a semana. O dia, cada dia com justiça social. Como se pode premiar um gestor por fazer bem aquilo para que tão bem remunerado é?!!!

Mais do que do teu texto por si só, gostei imenso do facto de o teres partilhado connosco.
Obrigado, Cybe.

Um abraço.

CybeRider disse...

Olá Gemini!
Sejas muito bem aparecido! Já espalhaste decerto muitas preocupações com a tua ausência. Espero que tenha sido por algo de bom.

Concordo com a tua análise. Estamos a dar novo cunho ao conceito de "democracia representativa", esta é a que se baseia na representação mas mais no conceito teatral da coisa.

Nem a justiça mais elementar nos chega, quanto mais a que requer julgamentos mais complexos.

Abraço. É muito bom voltar a ver-te por cá.