Deste galho diria que és para aí do meu tamanho. Mas sei que não.
Já te vi de perto. Quando do cimo dos teus catorze anos apontaste um cano de ferro ao meu irmão e o trespassaste de lado a lado.
Vi como pegaste no pequeno corpo que não te enchia a mão e lhe sentiste o calor que se desvanecia. Vi-te olhá-lo nos olhos, a tentares compreender toda a mágoa que a natureza te mostrou naquele último brilho. Vi como te entristeceste, mas não te consigo perdoar... Nem hoje, nem talvez amanhã.
Ainda assim tento.
Mas também não percebo porque me deitas abaixo a casa que construo paredes meias com a tua, e não me deixas ser feliz com uma família, assim, como tu.
Não percebo porque teimas em dizimar os jovens que brincam frente ao caixote de ferro com que percorres o mundo, sem me veres.
E não entendo também porque me enches o céu de poeira.
O meu Sol está tão quente...
Solto-me ao céu ainda azul. Rémiges ao vento, tento esquecer que existes. Mas volto, para dormir nas árvores da tua rua, a tentar perceber porque me tratas assim. Estou contigo no bosque a avisar-te que o teu passeio é seguro. Estou contigo nas manhãs mais belas a animar-te para a vida. E tu não me vês! Como posso perdoar-te?...
Canto para ti, o melhor que sei, melodias para te recordar da Primavera.
Espreito à tua janela.
Porque não aqueces os teus filhos na tua cama? Porque os acordas tão cedo e os levas para outro ninho? És muito estranho...
E tentas imitar as minhas cores, que mudas todos os dias. Mas também não compreendo os teus chilreios de amor, nem a agressividade com que demarcas o teu território, nem porque tens de fechar o ninho que deixas vazio.
Daqui do meu ramo volto a olhar para ti. E amanhã vou voltar a pousar na tua varanda.
Porque não me segues, quando me arrisco a desafiar-te do beiral da tua janela?
© CybeRider - 2009