Roubei do negro corvo as lúgubres penas
Com elas peneiro agora a minha penitente alma
Por consolação que estranhamente me acalma
Guardei delas, a medo, apenas as mais pequenas.
Dessas, de tão sórdida, cruel e negra lembrança,
Arredei as mais impuras mas sãs loucuras,
Restaram, para meu desconsolo, as mais escuras
A constranger com força as réstias de esperança.
Assim me pavoneio, fingindo que não são minhas
As tristezas que desta forma inglória carrego
Antes tivesse eu pilhado a mais fofa das galinhas,
Não teria agora o corvo a tentar que as restitua.
Debato-me no meio da rua, a eito, como um cego
Tentando manter minha a roupagem que era sua.
© CybeRider - 2010
Com elas peneiro agora a minha penitente alma
Por consolação que estranhamente me acalma
Guardei delas, a medo, apenas as mais pequenas.
Dessas, de tão sórdida, cruel e negra lembrança,
Arredei as mais impuras mas sãs loucuras,
Restaram, para meu desconsolo, as mais escuras
A constranger com força as réstias de esperança.
Assim me pavoneio, fingindo que não são minhas
As tristezas que desta forma inglória carrego
Antes tivesse eu pilhado a mais fofa das galinhas,
Não teria agora o corvo a tentar que as restitua.
Debato-me no meio da rua, a eito, como um cego
Tentando manter minha a roupagem que era sua.
© CybeRider - 2010
14 comentários:
olha olha
ps.: Perdigão não quer perder a pena
Pois não Caçador, sem elas fico reduzido a um franganote esquelético. E escrevo isto num dia e no dia seguinte morre-nos o Saramago. Lá fico com outra pena escura agarrada à indumentária. E o sacana do corvo que não me larga!
Olá Cybe
Gostei...
Abraço
Olá Mário,
Devia ter passado as cores. Assim, a carvão, ficou um bocado em bruto.
Abraço
Desculpa-me mas reconheço mais a essência no bruto...
Ainda tenho tanto a aprender contigo!
:))))))
Comigo???
:)))
Comigo ninguém aprende nada...
Que raio de conceito publicitário é esse? :)))
Belissimo, que poderei dizer mais?
Sou afinal mais magro, e bem mais leve do que pensava. É melhor ir ter com o César e devolver-lhe o que não é meu. Já deveria saber que não basta sê-lo, deverei também parecê-lo, ou ainda me provam que eu, não sou eu.
Olá Gemini,
Será a sociabilização que nos obriga a envergar o sobretudo. E no entanto talvez o fingimento seja nosso em não aceitarmos que as penas do corvo são afinal tão nossas. Onde estará a verdade? De quem são as tristezas que carregamos? Serão do corvo, ou são afinal nossas por legado que o corvo não quer reconhecer?
Aprendemos nós a tristeza pela vida? Ou somos nós que a emprestamos ao mundo?
Sinto-a como minha, no entanto o mundo diz-me que é sua. E acabo por fingir que é sua para que ninguém saiba que é minha por fim.
Tivesse eu feito o percurso mais fácil das alegrias...
Abraço
Lembra-me a "dor" do Fernando Pessoa:
"O poeta é um fingidor...
Finge tão completamente,
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente"
Abraço, Cybe.
Tremem-me as mãos quando aqui venho escrever(!!...), e lá se foi um "click" a mais.
Se quiseres eliminar um deles, escolhe o que menos te agradar!
;)))
Não tanto quanto as minhas quando carrego no "publicar", de certeza! :)))
O Fernando foi grande pessoa, tanto do que escrevemos lhe vai parar, e pensar que foi noutro tempo, em que as penas não seriam maiores ou menores, eram só outras que a sua imensa genialidade nos encanta até hoje.
Bem lembrado Gemini. Já cá faltavas!
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