quarta-feira, 11 de março de 2009

Do calão ao erudito

AS PALAVRAS


Quando era miúdo
Dizia asneiras em vez de palavras
E, sobretudo, dizia palavras
No lugar de asneiras...

Agora, digo palavras que não são asneiras
E asneiras que nem palavras são...

E se tenho motivos para dizer
As asneiras que sei,
Troco-as muitas vezes
Por palavras que não conheço.

Momentos há até
Em que as asneiras que digo
Soam a palavras vazias
E palavras que digo
Soam a asneiras
Que nunca soube dizer.

Quando fios da seda mais branca
Me amortalharem,
Direi decerto muitas asneiras
Em vez de palavras
E muitas palavras
Que nem asneiras chegarão a ser.

Mas hão-de sempre haver
Tantas asneiras demais ditas
E tantas palavras lindas
Que a censura do tempo
Não deixará nascer...







© CybeRider - 2009

4 comentários:

Mário Rodrigues disse...

Um delicioso exemplo da magia das palavras…
Um abraço

CybeRider disse...

E o que seria da nossa vida sem elas?...

Um abraço!

Gemini disse...

E, enquanto for esta tua expressão,
Não deves temer pela asneira!
Um erudito contorna o calão,
Suas palavras, assim, sempre serão,
Fios de água a fluir de qual torneira,
Que, cristalina, nos branqueia o coração!

Este teu texto é um hino!

Um abraço!

CybeRider disse...

Gemini, tu sim que és um poeta!

Um abraço!