É raro...
Melhor... É muito raro ver alguém fazer peito à violência, que grassa, com atitudes de bravura individual. Vemos sim todos a escudar-se institucionalmente, mas a assumir exemplos de clara fraqueza na situação concreta, algumas vezes com razoabilidade mas em muitos momentos nem por isso, com que se deparam no dia-a-dia.
Não falo do confronto com meliantes, mas mesmo de atitudes mais mundanas, e principalmente da violência psicológica que nos asfixia.
Não é necessário medirmo-nos à pancada. É mesmo da postura que não se assume que falo, e que consequentemente nos enfraquece.
Nesta mariquice em que se vai tornando a vida colectiva, no super proteccionismo que procuramos de um Estado que não nos conhece mas que queremos, a saber porquê, uma mãe; na timidez que se assume como norma quando é preciso intervir, devíamos apelar mais ao nosso lado biológico de animais com capacidades de defesa, que ainda existam intrínsecas ao nosso ser, e que deveriam estar aptas a surgir quando as institucionais falhassem.
Não somos decerto super-heróis, mas ajudava lembrarmo-nos de que a forma física não devia servir só para cultivar aparência. Deveríamos estar aptos a mostrar que não somos lesmas indefesas prontas a que nos esmaguem com o sapato.
A falta de atitude interventiva torna-nos na vítima potencial, pronta a ser predada pelas feras argutas, e mesmo pelas acéfalas. Não cultivamos a aura que as faria olhar-nos de soslaio e temer pelas consequências de nos obstruírem o caminho. Assim somos como meras ovelhas indefesas face à matilha de lobos, em que só o número de potenciais vítimas no rebanho as pode salvar; pelo facto de, na escolha dos lobos, a sorte caber a algumas em detrimento de alguma sua irmã que será devorada. Esta forma de defesa não é digna de quem se encontra no topo da cadeia alimentar. Envergonha-nos na biologia.
Tivéssemos algum brio, não na imagem mas na essência, e haveria menos barrigudos. Fisicamente mais aptos ficaríamos mentalmente mais sãos. Consequentemente mais auto confiantes, em sequência mais altruístas.
Não estamos apenas a engordar fisicamente. É também a gordura moral que nos vai tolhendo os movimentos, roubando aos poucos a agilidade mental que nos tornaria mais aptos a colher direitos e mais prontos a executar deveres. E tantas vezes vemos direitos a ser exigidos sem que se pense na contrapartida...
E a tenacidade? Pelo contrário! Quebramos à mais pequena adversidade. Sem capacidade argumentativa para ripostar à altura, principalmente por falta de robustez.
Mimados, é o que estamos. Pensamos que merecemos um doce só porque pretensamente nos portamos bem. Mas os lobos crescem em tamanho e em número, e levam-nos a razão, os direitos e o prémio.
Devíamos ter um bocadinho mais de alma de campeão.
© CybeRider - 2009
18 comentários:
Assim, pro imediato, imediato mesmo, respondo-te com a única afirmação (roubada) que já me assolou durante toda a semana. E que resolvi colocar na última mensagem que escrevi lá pelo Queque:
"Muita gente- demasiada - tem os direitos à frente dos deveres."
Por isso, há muita gente à sombra da bananeira, a curtir este solzinho de Outono, e já curtiu o de Verão, e o da Primavera, porque simplesmente, acham que tendo os direitos assegurados, está tudo feito.
E é para o que o tempo dá, por agora. Falo do meu tempo. Falo do teu texto. Hei-de cá voltar, para "esmiuçar"- que é coisa que agora que parece que está na moda - este teu texto de intrincadas insinuações, e puxões de orelhas (aos comodistas)!
Hasta luego!
Beijinho!
Há que nos afirmarmos... só pecamos por defeito.
É isso mesmo Cybe, e esse marasmo, já nos tira aptidões, e leva os mais pequenos a achar que sub-reviver basta, em vês de viver... Essa ideia de mãezinha protectora vai para além do estado... vai até aos americanos que ajudem a safar a malta e a um Deus que seja a galinha, para debaixo das penas, nós possamos correr amedrontados... 4,5 milhões de anos a evoluir para isto??
Um abraço
Pois eu penso que o divórcio entre os políticos e os cidadãos em geral, ainda se está para dar. Os números em crescendo da abstenção (eleições após eleições), é apenas um indicador. Vão crescer (já estão a crescer, aliás) equiparados os fossos - políticos/ cidadãos – ricos/pobres.
E um dia vai virar-se tudo à palmada na praça!
"Ainda não se cumpriu Abril"! – "Aquele" Abril ainda não se cumpriu e, quanto a mim, nunca se irá cumprir. Será necessário novo Abril, ou outro mês qualquer.
Correu mal, muito mal com os cravos, talvez se resolva com as ferraduras!
Um abraço, CybeRider.
Olá Pepita,
De facto o tempo... Mas lá está, também a tua alma de campeã te permitiu apesar disso deixar aqui uma nota. E muitas vezes é isso, aquele esforço suplementar para mostrarmos a nossa voz e as nossas ideias, algumas vezes em nossa defesa, mas também em defesa dos outros, que por uma ou outra razão não saibam ou possam defender-se. É uma apatia que alastra e que torna a nossa sociedade num mero conjunto de indivíduos, quando deveria ser uma realidade coesa.
Hasta luego! (também precisava de umas aulinhas de castelhano...) :))
Beijinho
O sofá é fofo, mfc... Parece que exagerámos no conforto.
Pois Mário,
No rebanho de ovelhas mansas uma cajadada numa empurra as outras todas para o carreiro. Andamos a encostar-nos muito à decisão do pastor, e o pastor é apenas uma ovelha como as outras, ou talvez nem exista...
O que seremos daqui a outros 4,5 milhões?...
Um abraço
Olá Gemini,
Esse estranho divórcio que prevês não se me afigura desejável. Tal como o Martin Luther King, tive um sonho um dia. O meu sonho não era a preto e branco, mas desejei deixar de ter medo, desejei que a minha sociedade me deixasse falar, e que não me batessem se eu expressasse válidamente a minha opinião. Esse sonho chegou a concretizar-se em parte. Hoje vejo muitos a expressar a sua opinião inválidamente, mas pelo menos são livres. E lamento que a sociedade esteja apática e pouco interventiva. A abstenção é mero comodismo. Não quero acreditar que os que se abstêm neguem a validade da democarcia. Não creio que se sentissem melhor num regime totalitário. Eu vivi alguns anos desse pesadelo que só não me foi mais pesado porque houve esse 25 de Abril. Foi o que foi, mas permitiu-me que agora possamos estar aqui a falar nestes termos. Nunca o poderíamos ter feito naquela altura.
Podem até advogar a anarquia. Quando era mais jovem cheguei a defender esse princípios. A anarquia porém requer um esclarecimento profundo de todos. A máxima de que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros" é uma utopia para a maior parte dos cidadãos. Defendo por isso um Estado de direito, e voto. Votarei sempre enquanto a política do meu país mo permitir, para que todos, mesmo os que não votem, por razões que não entendo nem nunca poderei entender, possam beneficiar dessa benesse que lhes damos, nós os verdadeiros democratas. É uma luta a que não darei tréguas, porque tenho memória e exemplos que me desagradam mais que a apatia generalizada do meu povo - e os políticos são parte deste povo também.
Um abraço Gemini, e que possas sempre escrever as tuas ideias sem medo de perseguição ou repressão, que nunca tenhas de fabricar os teus gritos às escondidas numa cave escura, nem distribuir os teus panfletos como se fosses um criminoso, enquanto isso acontecer Abril valeu a pena.
É pá, com esta fiquei mudo, e perplexo, não sabia que estava no topo da cadeia alimentar, alguém se esqueceu de me avisar!
Abraço
A extinção!
De facto, CybeRider, quando eu nasci a cadeira já tinha caído. E não precisaria de ter nascido muitos ou poucos anos antes dela cair, para saber as diferenças do pré e do pós. Isto é, para saber que o pós, seria sempre melhor que o pré.
Também eu desejo que esse divórcio não aconteça. Apenas o imagino muito provável. O sonho que tiveste, e que sei que ainda tens, é de milhões de pessoas também. Digo "é" porque "o" penso ser das coisas que se têm de cultivar em permanência.
Cybe, eu não coloquei em questão, nem coloco, o Abril de 74. Tudo aquilo que trouxe. É lógico que Abril valeu a pena. Bem mais do que isso. O que eu quis dizer é que não terá sido por "este" pós 25 de Abril de 1974, que se moveram tantos homens. Não terá sido por esta igualdade que eles se arriscaram. Uma sociedade que ainda espanca quem se manifesta. Que manda pessoas para cadeiras de rodas nessas manifestações. É uma excepção? – É, mas podia ser eu. Já não se fabricam gritos, às escondidas, em caves escuras, mas ainda se despedem profissionais por contarem uma anedota sobre o primeiro ministro…
Os que se abstêm por certo que não negam a validade da democracia. Porventura não a reconhecem como tal. Não em pleno. Muitos dos que lutaram por ela estarão desacreditados, desiludidos. (conheço alguns casos)
Não podemos também esquecer, a Natureza encarrega-se disso, de que muitos dos que viveram nesse regime totalitário e depois no democrático também, esses que darão um valor muito diferente à democracia, pelo que viveram na abstência dela, estarão "de partida", Cybe, e muitos já terão partido. Hoje em Portugal, há muitas pessoas com idade para votar, que não se preocupam minimamente em valorizar o regime que têm, porque o têm como dado adquirido. Porque isto será sempre o mínimo exigível. Como tal, "tá-se bem"!
Eu voto, Cybe, votarei sempre. No mínimo para garantir o meu próprio direito ao voto. É um dever meu, em última analise, para com os que pensaram nos que estariam para vir depois deles, depois dos que garantiram este meu direito.
Agora uma coisa é certa, meu muito estimado Cybe…
"(…) De nenhum fruto queiras só metade."
(Em todo o caso, serei sempre o único responsável por não saber fazer entender as minhas palavras!)
Um grande abraço.
Então Caçador? Logo tu questionas essa verdade? Pensava que a ti nada te caçava!
E olha que é uma cadeia com poucos elos, o que deveria demonstrar que a transformação da matéria em energia é bastante eficaz.
O desperdício? Justifica-se porque o que não alimenta o estômago alimenta o ego, e não me digam que a nutrição do ego não se reprecute em energia porque até se poderá provar que sim. (Ah pois! Vão lá preparando o Nobel!)
Abraço
:)))
Mário, uma espécie endémica a nível planetário (mas tendencialmente epidémica), predatória e dominante não se autoextingue. A menos que a natureza se defenda e nos elimine, o nosso destino será este (não é extinção, mas é a transformação em algo que nos permita atingir o objectivo derradeiro, a infestação de outros hospedeiros):
http://outranaferradura.blogspot.com/2009/02/o-futuro-adeus-passado.html
Olá Gemini,
Epá, não esperava que te sentisses de alguma forma afectado pelo que eu te respondi. Só manifestei o meu ponto de vista. Mas fico-te grato pelo esclarecimento. A queda do regime deu-se perante a mesma apatia da maioria que existe hoje. Também naquele dia ninguém sabia ao certo do que se falava (bem, alguns sabiam, mas eram uma pequena percentagem). À medida que o dia foi passando, o que parecia uma aventura tresloucada e impossível foi-se concretizando. Os que se juntaram aos militares foram de início curiosos, aos poucos foram os que pelo número dos primeiros se sentiram anónimos, e mais tarde os que quiseram distinguir-se dos que fujiam escorraçados. As pessoas foram sabendo aos poucos que havia mudanças a realizar. A titularidade do poder foi negociada entre o 1º.ministro e o general representante dos revoltosos.
Quando falas em tantos que se moveram... Havia mais vontade de ser livre que mobilização. A questão é que encontro hoje o mesmo desinteresse que existia antes desse dia. Havia muita ignorância e o patriotismo não nos fazia encarar com bons olhos a auto-determinação dos colonializados. Nessa altura por incapacidade cumpriam-se as determinações inquestionaveis dos governantes. Hoje por outra incapacidade pedimos aos governantes que determinem o que não pretendemos questionar. E quando se pede a quem governa que dite, o caminho só pode apontar numa direcção. Por isso não acredites no divórcio entre políticos (que são povo) e o povo própriamente dito. Mais depressa, na apatia, estes ficarão submissos ao que aqueles imponham sobre a vontade que tudo aceita sem capacidade crítica.
Nas primeiras eleições pós-revolucionárias a mobilização eleitoral foi imensa, porque se temia que quem não votasse fosse maltratado pelos revoltosos e considerado fascista. Depois fomos percebendo a diferença ténue entre dever e obrigação. E o que sinceramente espero é que não tenhamos de nos tornar todos políticos, não por dever mas por obrigação.
É pela outra metade que debatemos ideias Gemini.
Grande abraço!
Se calhar é por isso que a obesidade está a aumentar a olhos vistos!!
Eu acho que essa apatia que falas, Cybe, tem apenas uma justificação. As pessoas não têm ideais, as pessoas não estão dispostas a abdicar do que consideram "seguro", embora não as realize, embora não se identifiquem. Mas estão seguras. Assim como estão seguras ao exercer os seus direitos, esquecendo que existem deveres. Criou-se um certo facilitismo que se foi enraizando e consumindo a sociedade.
Se o outro não faz, porque hei-de fazer eu? Eu sou só eu, que adianta tentar mudar algo? Não vai fazer diferença, sou só eu! Esquecem-se que se conseguirmos mudar, melhorar apenas um pouco o pedacinho de mundo que nos rodeia, já faz diferença. Passo a passo o mundo avança.
Em termos políticos, não me posso manifestar muito. Percebo muito pouco. Mesmo assim, voto. Sempre. Embora baseada na minha visão um pouco limitada da política, apesar de procurar informação que me permita decidir conscientemente.
Não são precisos super-heróis. Precisamos de defender aquilo em que acreditamos.
"Pensamos que merecemos um doce só porque pretensamente nos portamos bem." E habituam-se a isso. A fazer as coisas não porque devam ser feitas ou pela satisfação pessoal que daí advém, mas por uma qualquer recompensa. E quando um dia essa recompensa não chega ficam sem saber o que fazer.
Alma de campeão... necessária, sem dúvida. Com a consciência de que por vezes os campeões também perdem, mas não se deixam abater.
Beijinhos
Cybe, o que me afectou foi apenas a possibilidade de não me ter explicado devidamente.
Um abraço!
É, Nirvana. Tens razão. É a presumida segurança a provável causa da passividade a que assistimos. E é essa passividade que a médio termo acaba com a segurança que se idealizou.
A falta de intervenção advirá de um receio injustificado da crítica. Essa maldita que pode por em risco a tal segurança que referes. Enquanto não nos manifestamos não somos carne nem peixe.
A facilidade com que se atribuem rótulos a quem opta leva à abstenção nas opções. Era necessário que houvesse mais esclarecimento voluntário. Não me refiro a campanhas, mas a uma mudança nas mentalidades. Aprender custa. É mais fácil ficar a olhar para aquele maldito quadrado a ver o mundo passar. O pior é que os inertes olham para o quadrado apenas para entretenimento. Quando surge a informação, das duas uma, ou não têm meios para a compreender e eventualmente questionar, e bebem o que ouvem como um dogma que se aprende, ou por outro lado aproveitam esse intervalo para aliviar alguma necessidade.
O aumento do nível médio de cultura levaria a que cada um soubesse fundamentar as suas opiniões e que se pudesse orgulhar de si mesmo.
Vamos ganhando barrigas e perdendo o orgulho. Estaremos votados a ser uma população amorfa?
Beijinhos
Gemini, já me conheces. Não faço juízos apriorísticos (se os fizer o erro é sempre meu).
Um abraço!
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