Há quem também lhe chame falta de inspiração.
Olhamos para esta folha em branco e ficamos a pensar se algum dia voltaremos a conseguir preenchê-la, com aquelas ideias luminosas de antigamente.
Há maneiras fáceis. O recurso à pornografia pode ser uma. Podemos pegar num matutino (leia-se televisão, rádio, internet) e agarrar a via imediata da crítica aos políticos, aos jornalistas, aos comentadores. Pode falar-se de futebol, de Fátima, do fado...
Mas quando se pretende um desempenho perfeito, há que ter em conta os preliminares que nos conduzem com mais segurança ao ambicionado êxtase. Há que acariciar cada curva de cada palavra, passar a língua pelos conceitos mais audazes, beijar cada concavidade do imaginário, vibrar com cada metáfora que arrebita, gemer com as hipérboles menos óbvias. Há que gostar do paladar do suor que brota da refega... (Sentem?... O palpitar destas reticências?...)
Não será de seguir o trilho de imaginar o "como" do funcionamento da coisa. Quanto mais pensarmos "como" vai acontecer, mais depressa nos iremos deparar com a inibição, com o fracasso, com a desilusão de constatarmos que, afinal, já não é como dantes.
Tem de ser incontrolável, inexplicável, irracional mas simultaneamente consciente. Uma força anímica que não se comanda nem se compreende. Que existe, e pronto!
Quanto mais racionalizarmos a possibilidade de vir a acontecer ou não, mais somos levados a práticas onanísticas que só dificultam as coisas. Pensamos nos assuntos, gastamos os temas antes de os transpormos para aqui, e concluímos que à altura de tentarmos brilhar com o nosso desempenho, já nos falta a motivação que queimámos egoisticamente.
A leitura do que os outros escrevem transforma-se nas imagens e sons indecorosos e imorais que nos apaga a libidinosa veia literária e, quanto maior a qualidade do que lemos, mais dúvidas teremos de que o nosso desempenho venha a estar à altura.
É aqui que admiro o gigolo, que consegue a performance desde que lhe paguem. É que, comigo, nem que me paguem a coisa resulta!...
Não sei como é num cérebro feminino. No meu funciona de facto num paralelismo atroz. Quanto mais pensar nisso menos hipóteses terei de sucesso. Sei, por aprendizagem e constatação, que há-de vir o dia em que tudo se normaliza, em que conseguirei o tema orgástico que fará de mim o herói da noite; aos meus olhos, pelo menos.
É a angústia de não lhe saber o"quando" que me atormenta.
Por fim fica-me sempre a dúvida. Sei que para alguns foi demais, para outros não chegou para começar. Inquieta-me a precocidade que resulta dessa ansiedade em provar que "posso".
E ainda não inventaram o Viagra de que preciso. Aquele que provoque aquela Tensão Uniforme Singularmente Agradável (TUSA) para as ideias que me faltam.
Resta-me desejar que tenha sido tão bom para vocês, como foi para mim.
© CybeRider - 2009
21 comentários:
Hoje tenho que te chamar um nome (e sei que a minha chefa não se vai importar...): CABRÃO!!!
(tinhas prometido e eu estava a postos... ;-))
Ena pá! :))))
Não te esqueceste!!!! :))))
(Reparaste na pontualidade?)
E fiquei MUITO feliz pelo que encontrei lá no teu cantinho!!!
Pelo teu 'toque', causas o ciúme nas páginas em que não escreves! No entanto, as contempladas, rendem-se a um orgasmo que, eventualmente, haviam planeado não atingir... Uma resma de folhas, será apenas uma fila de 'damas', à espera de uma oportunidade para estar contigo!
Confesso, sim... para mim foi muito bom. Parabéns!
Ena Gemini!!!
Que comentário lindo! Epá, nem sei... Ouve... Isso é um poema fantástico! Felizes as folhas que dominas e que consegues embelezar dessa maneira espantosa.
Não me julgues, porém, pelo que as tuas te dizem.
(Vem-me à ideia a imagem de me ver embrulhado em papéis húmidos de desejo... Que porcaria...)
:)
Olha meu, estou exactamente nesse ponto estúpido de impotência. Quero postar no raio do blogue, tenho a fotografiazinha pronta, recortada, balanço de brancos, brilho, contraste, definição, tudo no ponto, um histograma geitosinho.
Os clikes também já estão escolhidos, completos, alinhados, num equilibrio entre as músicas que gosto, as que quero mostrar, as ironias e, claro, os desenhos animados.
A coisa até tem título, sim que este é muitas vezes um parto difícil (ou neste caso, orgasmo).
E agora? Pois, agora falta um textozinho a completar. Não é que tenha de haver sempre texto, por vezes não tem. Mas, agora, quero que tenha e não sai nada, a coisa não endurece.
já recorri a alguns truques e nada, ler umas coisas relacionadas (a tal pornografia), umas imagens... Nada.
Talvez seja mesmo falta de TUSA, onde é que isso se vende?
Ah! Pois... A Fonte da Juventude, Caçador, está ali à distância de 20 anos... Lembras-te?...
Agora resta-nos uma panaceia, imprópria para os tempos que vivemos. Chama-se contenção.
Sustendo o vício conseguem-se os melhores resultados. Pois, é como na "outra" falta de entusiasmo. Ao contrário do que há quem avente, são os excessos que nos reprimem a inspiração.
É difícil, porque são todos tão bons que não podemos deixar de andar a calcorrear estas vielas e a perder-nos na contemplação das criações de cada um. Não há como evitar...
É não pensares nisso. As coisas aparecem. E tu és um felizardo! Olha, eu só tenho o texto para me amparar... E quando falta aquela palavrita, que até sabemos que era mesmo a que tem o conceito certo... A vontade está toda, a ferramenta é que não obedece... (E vá, uma hora de dicionário... Era por P... não... Era por T... Cara...pau!!!)
(Mas não me lixes! Aquilo está lindo, pá! Ando é a correr e estou sempre muito atrasado, mas não deixo de passar, também por lá).
Abraço! Daqui a 20 estamos a falar do mesmo, com menos palavras, que as outras, entretanto, vamos esquecendo...
Arranjas-me cada uma!
E agora? não posso comentar!
Pronto. Comento que não comento!
Mas afinal comento :)
Ideias luminosas, textos fantásticos, desempenho perfeito... e eu penso no que escrevo e só me vem uma coisa à cabeça "ops, isto não abunda por estes lados, é melhor ir comprar umas hormonazitas que isto anda um bocado em baixo". Quando é que terei uma dessas ideias luminosas? Quando farei um desses textos capaz de abalar um capilar literário? Ao contrário do que dizes "É a angústia de não lhe saber o"quando" que me atormenta.", a mim, é a incerteza de não saber se e quando que me anima. Talvez um dia...
Para dizer a verdade, gostei imenso do texto, aliás, como sempre! Foi muito bom para mim. Só tu para escreveres um texto assim, "brincares" assim com as palavras. Podes deixar o viagra das ideias na gaveta porque não te faz falta nenhuma. Ainda tens uma overdose ;).
Eu é que estou a precisar dessas coisas!!!
Esqueci-me:
Bom fim de semana :)
Bjks
Olá Nirvana!
Sem querer voltar aos "meninos", sempre vou dizendo que precisam que qualquer desempenho seu seja bom, (quando as meninas dizem que não foi, é que "são elas"... Lá vão eles ao psicanalista e assim...). Com os textos é a mesma coisa, felizmente menos estigmatizante, daí que os meus anseios sejam eventualmente por coisas muito medíocres, cujo valor só existe porque são o limite da minha performance (o "fantástico" é bastante subjectivo, não o emprego como termo comparativo mas como prova de esforço).
Não fosse assim e não desejaria que tivesse sido bom para quem leu... Teria a certeza de que sim.
Embora tenha adorado a tua perspectiva de ser "a incerteza de não saber se e quando que me anima", embora mais realista e dura ("dura" neste contexto pode não ser a melhor escolha) que a que escrevi, leva-me a acreditar que me teria deixado mais solitário, talvez incapaz de me aproximar de alguém com medo dos meus desempenhos (que sem saber avaliar ao certo, tenho que acreditar que tenham que ser bons, no mínimo para mim e -tanto quanto possa- para outrém. E não estou a falar apenas de textos, mas também).
Já tive ocasião de referir em comentários que os textos que os outros escrevem, e que admiramos, tendem a parecer-nos sempre singulares e grandiosos. Há aquela vontade de que "aquela" ideia tivesse sido nossa. Que isso não te iluda em relação aos teus... Sou um invejoso (no melhor sentido), e não é por acaso que volto muitas vezes ao que escreves, e que fico contente porque brilhas, não só lá como aqui. :)
Bom fim de semana!
Bjks!
Cybe,digamos que o limite da tua performance é muito pouco limitado!
Os teus textos de mediocre não têm nada, pelo contrário. Como já te disse antes, são diferentes, são fantásticos, são estimulantes.
Eu já disse no meu cantinho que às vezes (muitas vezes), acho que não tenho os parafusos todos no sítio. Durante muito tempo preocupei-me com o que pensavam os outros, no geral. Agora não. Preocupa-me o que as pessoas que me interessam pensam. O resto não. Como tu tão bem dizes, bom pelo menos para mim. E se nós vimos aqui é porque é bom para nós. Sim, porque eu cá não sou masoquista e não me contento com pouco. Só com as melhores performances!
És um invejoso do pior!! :P. Deve ser por isso que presenteias os nossos textos com os teus comentários, sempre tão bons para nós como espero que sejam bons para ti.
Bjks
"...Há que acariciar cada curva de cada palavra, passar a língua pelos conceitos mais audazes, beijar cada concavidade do imaginário, vibrar com cada metáfora que arrebita, gemer com as hipérboles menos óbvias. Há que gostar do paladar do suor que brota da refega... (Sentem?... O palpitar destas reticências?..."
dou-te os parabens, julgo que conseguiste ter uma bom orgasmo com as palavras eheheh
ves, e sem pensar demais, conseguiste mesmo
qual viagra qual que??
eheheheh
beijinho :)
Olá Nirvana,
Ainda bem que voltaste. Tens alguma sugestão para o próximo?... E se te desaponto?... E se...
Começar uma aventura destas não se me afigura muito complicado, há montes de ideias que já passaram vezes sem conta pelo pensamento. Montanhas de assuntos a que já tirámos as medidas.
Depois vêm as opções. E a dificuldade em manter as coisas dentro de certos limites, não extravasar para princípios que procurámos manter, evitar temas que não nos divertem (no bom ou mau sentido)... Evitar repetições...
Os três textos da série "meninos e meninas" foram -apesar de tudo- fáceis, porque tive a tua ajuda. :)Disse-te que abordaria "a questão" de outra forma, foi essa.
Para quem mantiver um blogue há mais tempo, este texto pode ser o reavivar de uma série de medos, com um desafio implícito, capaz de motivar a interjeição que a CJ usou lá em cima, mas num sentido ainda mais vívido do que ela utilizou... :)
As leitura são por isso múltiplas, e ainda bem que a maioria de vós não viu isto como um desafio (ela viu, porque este texto surge por uma resposta...) ou seria desta que me corriam à tomatada!
Bjk!
Olá Soraia!
Ainda bem que para ti também foi bom! :)))
Obrigado pelo estímulo. Mas não te iludas... "sem pensar demais"?... Se calhar, levei semanas (ou anos... todos os que tenho...) para escrever isso (ou não?...) :)))
Beijinho!
No meio disto tudo esqueci-me de te dizer (embora não devesse ser necessário): Amei! Vibrei! Sim, para mim foi para lá de bom :-)))
CJ, claro que não era necessário! Não me passou outra coisa pela cabeça!(Já nos conhecemos!) :-)))
Tenho sido uma voyeur das palavras que aqui se vão escrevendo: tenho -me mantido caladinha, sossegadita, por detrás da cortina e a ver delinear cada curva, de cada palavra e dos teus actos de sedução linguística que sabes tão bem fazer.
Não sei se por frigidez nas palavras- quase de certeza que não-ainda não tinha comentado. deleitei-me apenas com os prazeres dos outros em cá deixarem uma explosão de palavras.
Talvez mais por anorgasmia nas palavras que ainda comecei a escrever mas que ainda não tinha clicado no enviar. O Ponto G da escrita ainda era um mito. Agora, com os preliminares feitos, as palavras soltam-se e posso cá escrever.Não quis gravar nestas caixas, falsos gemidos de coisas ainda mal pensadas... :)
O prazer da escrita não é tão bom como um orgasmo (daqueles verdadeiramente reais!), mas é um bom pelúdio de amor!
Quem tem o prazer da escrita eleva a alma, tal como outros prazeres podem elevar outras coisas ;)
Mas acho que até os verdadeiros escritores- assim classificados mais por quem lê, do que por quem escreve-sofrem desta disfunção. Nada conseguem fazer, para que a inspiração os leve a grandes momentos de prazer.
Talvez sejam o preliminares demorados da escrita que colmatam essa disfunção... Uma mordida numa frase ali, sugar um parágrafo acolá,Uma ideia que jorra mais à frente, um roçar demorado nos pontos mais sensíveis...e quando vais a dar por ela, atinges o auge...
Depois fumas o cigarrito da praxe...e aguardas que também outros cheguem ao auge, com as tuas palavras...
E depois disto tudo...
Acho que este post, deu uma orgia de vocábulos, analogias e umas quantos sorrisos maldosos aos que por aqui passam!
Olá Pepita!
(Já começo mal... Como é que se responde a um comentário desta categoria?)
Não esperava ter que voltar aqui à caixa, como costumo voltar aos posts mais apetecidos que releio antes de comentar, para elaborar uma resposta.
Na incerteza de ter criado estruturas de suporte que sustentassem o teu comentário, voltei a ler o texto. Encontro-o um pouco mais humilde, talvez enrubescido, mais nu. Um texto, para alguns atrevidote, transforma-se à tua crítica soberba numa peça de requinte.
Revejo-lhe pelas tuas palavras cheias de humor, elegância e poesia o êxtase que me percorria os dedos ao escrevê-lo, e que tão bem evocas. Isso deu-lhe, mesmo aos meus olhos, uma nova vida.
Fico com vontade de acreditar que seja possível escrever sobre a "função", num paralelismo com a vontade de escrever, mas sinto também que acabas de fazê-lo neste comentário magnífico.
As tuas palavras dão-me uma grande satisfação. Não é fácil encontrar um comentário que faça empalidecer um post, mas eu encontrei-o, e está aqui, num texto meu, que ficou mais rico com os comentários maravilhosos que já tinha e a que o teu se junta, cheio de mérito.
Mesmo fantástico é ver uma disfunção acabar num enlace destes!
Beijinho!!!
;)
António,
As anomalias morfológico-funcionais, nunca são definitivas!
Aliás nada o é!
Aguarda!
Aguarda a passagem de uma musa bem pela frente da fornalha do teu cachimbo, enrola um cognac em cristal quente, põe um velho blues do Tenesse no prato e deixa marinar 15 minutos!... Depois basta fechar os olhos e veres as mãos a dançarem melodias no teclado do prazer...
Abraço
Tão bons conselhos me dás, bom amigo. Amanhã será. Amanhã... Amanhã é dia de caça, outra vez, que a barriga não espera. As musas não chegam para as encomendas, dos outros, que as minhas devem estar presas em alguma aduana. Acho que até essas só acorrem aos de barriga cheia, interesseiras, por uma passa de Peterson Sunset Breeze dão em troca duas linhas, por um gole de Napoleon melhoram ligeiramente a pontuação. Fui-me aos blues, a primeira da lista não augura nada de bom, BB King, "The thrill is gone"...
Abraço
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