domingo, 3 de maio de 2009

Mãe... Quem és tu?...

Dedicado aos que nunca foram filhos da mãe


Que as há de toda a grandeza.

As boas, as más, as carinhosas, as mais distantes, as cuidadosas, as descuidadas, as que nos amam, as que nos odeiam, as que nos amparam, as cultas e as iletradas, as que nos matam, as bonitas por fora e feias por dentro, e as que, por mais feias que sejam por fora, serão sempre lindas para nós.

Há ainda mães que são melhores que muitos pais. Há os pais que são mães também.

E há aquelas que vivem connosco para sempre. Que nos acompanham cada dia, como se fosse o seu, lá longe ou mais perto. As que nos transportam na boca em cada palpite do coração, em cada expiração. As que nos seguem, as que nos perseguem, as que nos telefonam e as que nos esquecem.

As que os nossos pais amaram ou amam. As que amam ou amaram os nossos pais. As que nunca amaram ninguém. As que nunca foram amadas.

Há ainda as que nos abandonam num ninho de cucos, para crescermos entre os outros, cientes de que esse futuro incerto é o melhor para nós.

Há as que rebentam as entranhas para nos deitar ao Mundo e as que sem sofrer uma dor nos amam mais do que aquelas.

Que dia é este?

Será o dia de pensar naquela mulher que nos ama e que vimos maltratada, mas que nos culpamos de não ter protegido, porque o agressor foi um pai que nos ama também?

Ou antes o dia em que aquela mulher, que nos ama, empunhou a faca para retalhar esse homem, que não conseguimos odiar, pelo bem que nos quer, mas que a traiu vezes sem fim?

Ou só daquelas que passaram fome para que tivéssemos uma sopa para comer?

Das que nos pariram em consciência, ou das outras que aprenderam a aceitar que somos mais do que aquele acidente?

Ou será apenas das que num acto natural nos deram a vida?

Será o dia de lembrar a mulher que nos criou, mas que abandonámos à sua sorte quando a trocámos pela outra, mãe dos nossos filhos? A que chorou todas as lágrimas nesse dia sem saber se de felicidade ou tristeza?

Ou daquela outra que tudo ensinou à sua menina e a vê partir para todos os erros e injustiças para os quais ela própria, um dia, partiu também?


Mãe...

Quem a tem saberá... Que há só uma!

Para esses, este dia é tão igual ao de ontem como ao de amanhã.


É em todos os outros que penso. Que neste dia celebraram uma das maiores tristezas que alguém poderá sentir.


© CybeRider - 2009

15 comentários:

Pepita Chocolate disse...

Porque mãe há só uma, não importa o que seja ela, porque não deixa de ser nossa mãe. Para os que já não a têm, ficou a tristeza, depois a saudade, agora a recordação...e uma lágrima que cai, por não poder voltar a ver-lhe o rosto!
Não tenho essa dor ainda felizmente, mas acompanho-a de perto, como se fosse minha!

Boa semana!

CybeRider disse...

Olá Pepita, o conceito comum de "mãe" tende a mesclar-se com uma multiplicidade de situações que vemos (ou não) no dia-a-dia. Pior do que perder a mãe que se teve será nunca ter tido quem nos amasse como tal.

Boa semana para ti também.

escarlate.due disse...

excelente análise Cyber! acho que até hoje foi o seu texto de que mais gostei!

é isso mesmo Cyber, mães há de todas as cores feitios e qualidades.
tive Mãe de 365 dias do ano e tento ser mãe outros tantos por ano mas também tenho uns filhos "emprestados" (2 amigos do filho)que embora tivessem mãe nunca chegaram a tê-la e um dia me adoptaram... e sabes... adoro poder dar-lhes um pouco desse meu "mãe"

CybeRider disse...

Escarlate, agradeço-te o elogio e principalmente o testemunho. Estes dias de contos de fadas, herdados do antigamente e hoje pintados a consumismo inquietam-me.

Talvez porque as melhores prendas não me foram as do "dia do pai". Mas também porque a minha mãe não lê blogues. Senti que me seria mais honesta esta análise.

Ainda bem que gostaste. Já valeu a pena! :)

the dear Zé disse...

Bem escrito, como sempre. Análise minuciosa, certeira, atenta, carinhosa, sentida, dorida. Partilhada.

Até logo

CybeRider disse...

Pois Caçador, ainda assim não deixo de ser um filho da mãe.

Nirvana disse...

É verdade, mãe só há uma, e não é necessariamente aquela que, num acto natural, nos pariu. Mãe define-se muito facilmente, Mãe é Amor, na sua forma mais simples, mais bela. Amor incondicional. Tenho a sorte de ter uma Mãe que me trouxe ao mundo e me ajudou a ser quem sou. Com quem posso contar sempre. Que eu amo todos os dias e a quem faço questão de o demonstrar todos os dias e não apenas no dia da mãe.
Há alguns anos ouvi esta frase, que ficou registada cá dentro: Mãe é viver com o coração fora do peito. Mas há coisas que só se entendem verdadeiramente quando passamos por elas. E ser Mãe é uma delas. Sou mãe de um diabrete de 8 anos, mãe sozinha, mas muito mãe (tento, pelo menos). Às vezes não é fácil, conciliar o ser mãe, o trabalho, o ser mulher. Já abdiquei de muita coisa, quer a nível profissional quer pessoal, por ele. Mas não me arrependo de nada. Podia ter escolhido não o ter. Teria mais tempo para mim, podia fazer o que me apetecesse. Mas seria bem mais vazia a minha vida, sem aqueles abraços que só ele sabe dar, sem aquela carinha linda a olhar para mim, sem os bilhetinhos que encontro nos bolsos, na carteira, a dizer amo-te mamã, sem as lágrimas de alegria e orgulho que tantas vezes caem. Até sem as vezes em que perco a paciência porque ele faz asneiras na escola ou quando, no 1º ano, imitou a minha assinatura na caderneta.
Não consigo entender as mães que maltratam os filhos, como é possível isso acontecer.
Ser mãe tem-me ensinado muita coisa. Como eu costumo dizer, o meu filho é o meu Prozac.

Textos há muitos também, mas amei este.
Bjks e boa semana :)

CybeRider disse...

Olá, Nirvana. Obrigado pelo teu comentário sentido. A definição de Mãe, que tão bem elaboras com base no Amor, e que chamas fácil, só o poderá ser porque vem de um coração cheio dele.

Acredita que senti a emoção (e o contágio) das tuas palavras. Isso foi muito gratificante.

E gostei de saber que o teu filho é, no contexto, um filho da mãe. :)

Boa semana para ti!

Bjks

P.S.: Não sei se leste este (que não sei o que é ser mãe, mas sou pai):

http://outranaferradura.blogspot.com/2009/03/o-meu-acto-magico.html

Soraia Silva disse...

de facto mae é sempre mae...
muito sinceramente fiquei arrepiada com o texto, acho que nunca li esse ponto de vista em nenhum lado.
por mais porcarias que elas façam, por mais que nos prejudiquem, pior é nao saber o sentimento que temos por elas.
sentimos odio, revolta, tristeza, mas ao mesmo tempo nao queremos sentir nada disso, porque sao nossas maes. mas sentimos que nao há amor, ficamos apenas agarrados à palavra "mae"...
nao sabemos se havemos de rejeitar, ignorar ou se haveremos de apoiar.
o sentimento que tenho pela palavra mae é tao imprevisto que às vezes custa-me pensar nela, na palavra em si!!!


beijo!!!

CybeRider disse...

Olá Soraia Silva!
Obrigado pela visita, e por teres aderido ao meu pequeno grupo dos "Poucos... Mas MUITO BONS!!!", a que sinto pertenceres de pleno direito.

Agradeço-te o comentário acerca do texto, também ele (o teu comentário) me suscita alguns pensamentos:

Muitas vezes as "porcarias que elas façam", e os prejuízos que nos causam, que nos levam aos sentimentos menos nobres que referes, são manifestações do grande amor que têm por nós e tentativas desajeitadas de nos ajudarem à sua maneira. Temos que lhes dar algum crédito, tentar compreender o seu ponto de vista e sobretudo avaliar as ferramentas de que elas dispõem para fazer valer os seus pontos de vista (infelizmente nem todas podem ser argumentativas e dialogantes, mas não deixam de nos ter um amor enorme por isso).

Culpados somos também nós de muitas situações desgradáveis em que, providos de uma mentalidade mais aberta e de uma capacidade de diálogo maior, não lhes conseguimos mostrar as nossas maneiras de ver nem tentamos amenizar o ambiente doméstico para conseguirmos visualizar esse amor que disfarçam com os seus antiquados mandamentos.

Infelizmente só nos apercebemos dessas nossas incapacidades tarde demais.

Quando elas falam é bom. Quando nós falamos também.

Claro que há casos perdidos (uma minoria, acredita). Não as escolhemos, mas temos o dever de aprender a viver com as que nos couberam em sorte. O futuro dirá se fomos bem sucedidos.

Beijo!!!

Nirvana disse...

Cá esyou outra vez :)
Não tinha lido ainda. Obrigada pela dica, mas tunão sabes que as famosas hormonas da gravidez nunca mais nos deixam?? E lá fica o coração apertadinho...
Como dizia William Barclay, há 2 dias fabulosos na vida: o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos porquê. O verdaddeiro valor da vida, como tão bem dizes.

Desculpa só discordar de uma coisa, da primeira frase "Acreditei que podia mudar o mundo". Espero que essa frase seja hoje conjugada no tempo presente. Não no sentido idealista que temos quando somos jovens inconscientes, em que achamos que vamos ser uns heróis. Mas podemos mudar o nosso mundo, tentar que a pequena porção de mundo que está à nossa volta seja melhor.
Se toda a gente fizesse isso, não teríamos um mundo bem melhor?
Bjs e continua a ter esses sentimentos tão bonitos.
Bjks

CybeRider disse...

Olá Nirvana!
Obrigado pelo teu novo comentário! Essa frase do William Barclay é de facto fabulosa.

Mudar o mundo é capaz de ser mais simples que mudar o Mundo. A primeira ainda vou tentando fazer, mas já sem esperança de ser tão influente ao ponto da segunda. Apesar disso ainda estou no "ver para crer". :)

Com comentários como os teus só posso mesmo continuar a ter bons sentimentos (difícil é por vezes pô-los por escrito).

Bjks

Gemini disse...

O teu texto conduz/conduziu (alguns de nós) para um ponto de observação pouco visitado. Está tudo dito nele!

Ainda assim constato,que serão elas, que farão de nós uma de duas coisas:

- Filhos da MÃE
Ou
- "filhos da mãe"
...

Abraço.

Gemini disse...

Impôs-se-me regressar pelo seguinte;

O teu ponto de vista é, no mínimo, muito forte. Transportou-me para uma pele que não pude vestir, porque… não consegui. A ausência, como a descreves, de mãe, faz do ser um "não filho". Não consegui fazer esse exercício.

Interroguei-me sobre, o que poderá sentir/pensar esta pessoa, num dia como 'o dia da mãe'?...

Conclui (felizmente) que nada posso concluir. Apenas lembrar-me que existem!

Abraço.

CybeRider disse...

Olá Gemini!
Nem sempre poderemos vestir todas as peles do Mundo. A multiplicidade de situações é imensa, nós somos limitados. Há muitas coisas que não pretendo saber sentir, esta é aliás uma delas.

A reflexão será uma via para nos aproximar das situações que nos surpreendem.

Nesta fase da minha vida ando principalmente atento às coisas em que não costumava reparar e a tentar encaixá-las nos meus cânones, do que em tentar interiorizar os sentimentos alheios, que muitas vezes sou incapaz de compreender.

O teu ponto de vista, parece-me por isso absolutamente correcto. Esse é o espírito. lembrar-mo-nos de que existem!

Abraço!