Ao Cabra de Serviço
Os anonimatos com que por vezes nos resguardamos servem muitos fins.
Já presenciei algumas opiniões acerca dos escritos anónimos que enchem a blogosfera. Já vi defender que o pseudónimo que nos protege é uma forma de nos ocultar de intenções malévolas e que constitui uma forma de anonimato.
Tenho defendido que nos ocultam de quem pretendemos ficar ocultos. Principalmente daqueles para quem o nome verdadeiro não terá nunca qualquer importância, nem o que fazemos, porque nada disso é o que somos.
Houve um telefonema, um encontro marcado. Um "talvez" que saiu dos lábios, no lugar do sim que de imediato baqueou no coração. Uma chave na ignição, alguns quilómetros. Receio? Talvez, o de poder não estar à altura, o de poder não corresponder a expectativas que se tivessem criado em quem convidou. Nada mais.
A meio percurso a sensação de que me dirigia de facto para um "blind date".
Nada mais errado. Ocorreram-me as recomendações de pai. O exemplo contrariado que teria de lhe justificar... Mas como?... (Ele há-de ler este texto. Compreenderá a diferença.)
De repente estava entre amigos de longa data. Faltava apenas saber quem era quem. Já os admirava a todos.
Tantos momentos já partilhados entre pseudónimos e longe de uma realidade que nos atrofia. Tantos textos escritos e lidos, trocados numa base quase diária. Textos que dizem mais de nós que todas as conversas que a medo vamos entabulando com muitos dos que nos ouvem, estes de quem conhecemos nomes de registo, e profissões. Estes de quem ocultamos facetas mais intimistas, opiniões sinceras e excêntricas, por sabermos que teremos de conviver com eles por mais uns dias...
Ali não. Ali, estavam aqueles com quem partilhei segredos que expus para sempre em público e que aqui permanecerão. Estas ideias para as quais não temo consequências, nem concórdias nem discórdias. Ali estavam desses, apenas. Que me toleram como de facto sou, com as minhas diferenças, a minha individualidade talvez estranha, que me conhecerão melhor que muitos que convivem comigo passo a passo, que julgam saber quem sou mas que não me lêem o que aqui confesso.
Talvez por isso, vi-os sem inibições.
Talvez por isso não falámos de profissões. Despedimo-nos por fim...
Ainda hoje não lhes sei os nomes de registo, nem onde trabalham, nem quanto ganham, nem em que lojas vestem, nem que carros conduzem.
Sei que enquanto estive com eles estive na segurança de amigos que somos. Mas sei sobretudo que, afinal, já os conhecia a todos, bastante bem.
Um "blind date" não é isso.
© CybeRider - 2009
21 comentários:
Ora lá está... Nem mais.
É que aquilo do Frei Tomás... Tinha que haver uma maneira de dar a volta ao texto, sem ser só "porque sim". :)
Caramba, que até se me arrepiaram os costados ;-))
É dificil explicares os feelings e as vantagens da idade e as leituras entrelinhas...
Naquela idade, é dificil eles entenderem isso.
O "because I said so" por vezes é a saida mais airosa.
:o)
Pois CJ... Essa foi a sensação que tive assim que vos vi. E foi muito bom! :)))
Não sei não, Peixa. À uma já são um pouco crescidos para acatarem um "because I said so" sem vir ao de cima a rebeldia própria da idade. À duas (não necessariamente por esta ordem), foram educados no diálogo e na tentativa de fornecer explicações válidas para as coisas que se lhes ia pedindo/ordenando. E, salvaguardados os escorreganços que fazem parte sine qua non da coisa, parece que até temos feito um bom trabalho com eles (e vice-versa). De modos que acho que agora é que este assunto vai começar a ser debatido a sério
MQP, tens razão e já me esqueci talvez das muitas "secas" que dei no meu desempenho de pai (forma mesmo muitas). Mas tentei sempre explicar. Mesmo com a dificuldade de fazer o downgrade de linguagem.
Concordo no entanto que o "because I said so" não só pode resolver como é necessário, para que eles não se esqueçam que há diferença entre "pai" e "amigo".
;o)
Há que encontrar um saudável equilíbrio entre uma coisa e outra, é o que é (dito assim até parece que é fácil...)
CJ, fui educado com demasiados "because I said so", daí que nunca deixei de tentar dar explicações. São um sinal de respeito por eles. Necessário, se queremos que eles nos respeitem também.
Requerem esforço, mas valem a pena. Sobretudo quando temos argumentos, como nós felizmente temos.
E agora vou ao ó-ó que amanhã é dia de teste e já não posso ver o CPA à frente.
O meu puto quando tinha 6 anos e estávamos a meio de uma conversa olhou-me nos olhos e disse-me "pois pai, mas tu és tu e eu sou eu"...
Acho que nesse dia começaram as minhas verdadeiras dificuldades, mas não desisti.
Xiii... Vai-te para a caminha Peixa, não fazia ideia. Não estragues o investimento. ;o)
É isso. Até porque o "because i said so" tem dois handicaps perigosos: um - estimula nos inteligentes uma enorme sede de contrariar, "just because i want to"; dois - vai perdendo eficácia na progressão contrária ao nº de vezes que é utilizado.
A explicação baseada no respeito (sobretudo pela inteligência deles) grangeia-nos (que palavra tão uinda!) o respeito deles em troca. E a sensação de segurança de que a Tereza falava. Que é essencial para a confiança mútua.
Óó Peixita... Torceremos por ti.
Não posso estar mais de acordo contigo CJ. E deixa-me acrescentar que dá um gozo do caneco ver que lhes conseguimos transmitir as nossas ideias, mas sobretudo poder discutir os assuntos com eles e ver a forma como eles olham para as coisas. Imperdível!
Tiro-te o chapéu, Cy. Foi isto mesmo e tudo o mais. E quando, ainda agora, me perguntaram como tinha sido e se foi preciso acertar agulhas a resposta foi não, ali já todos nos conheciamos apesar de nunca nos termos visto.
Mas, e porque ainda não te tinha dito, gostei muito de te ver. (principalmente naquela versão de gatas...)
Olha Tereza, ainda bem que vieste. Estava aqui com um dúvida... Ainda não tinha feito a dedicatória merecida a este post.
Se houvesse chapéus a tirar, haveria muitos a chover-te em cima. Em poucos blogues deve haver um conhecimento interínseco tão grande entre participantes.
Não comparo as alegrias. Está tudo aí no texto.
Só lamento ter perdido essa imagem que (por razões óbvias) não pude apreciar, e deve ter sido um momento solene a reter... Infelizmente só valeu a intenção. :)
Olha meu, eu é que estou às escuras...
Um destes dias temos que combinar uma caçada aos gambozinos. E a ver se desta não nos esquecemos da gasolina para os lampiões!
Abraço!
Are you talking to me?
Também esqualo de niro!
(Gasolina para os lampiões, só pode!)
E colmatar umas ausências (que nunca o são), antes omnipresenças, também!
:)
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