sábado, 18 de abril de 2009

Diálogos

De que falam duas pessoas que se encontram?

O que define afinal aquilo com que nos atrevemos a quebrar o silêncio?

Temos à partida uma tela imensa, para descrever todo o Bem e todo o Mal, toda a Alegria e toda a Tristeza, o Sol e a Chuva, os devaneios dos ventos, as estrelas na noite, o sangue da Guerra ou a tranquilidade da Paz, toda a Riqueza e toda a Pobreza, a Religião ou a Descrença, a grandeza do Mar e da Terra por contraposição ao Céu infinito, e simples banalidades de uns e de outros e nossas também.

Qual o motivo então de abrirmos a boca e começarmos a cercear essa imensidão, que só o silêncio consegue conter?

Porque não conseguimos simplesmente partilhar um silêncio? Abordando assim, em conjunto, todos os temas do Universo?

Porque teimamos em afirmar as nossas diferenças na fraca expectativa de ouvirmos consensos ou discórdias? Sempre para constatar que não percorremos os mesmos caminhos, não tivemos as mesmas vivências, afirmando principalmente as nossas diferenças?

E fazemo-lo muitas vezes com a clara convicção de que o que quer que opinemos poderá alterar o rumo do Mundo.

O prazer de partilhar ideias com que acabamos também por aprender, justificará todas as vezes em que reduzimos o diálogo a uma simples pretensão de deixar a marca da nossa individualidade?

Quantas vezes o silêncio não substituiria com vantagem aquelas ocasiões em que nos exprimimos por mero protocolo, simples cumprimento de formalismos com os quais nem concordamos, em que acabamos por deixar uma imagem errada da nossa verdadeira identidade, exactamente porque não permitimos que nos avaliem pela imensidão do silêncio virtuoso que poderíamos partilhar?

E tantas outras vezes em que dissemos afinal o que não queríamos... Ou partilhámos mentiras, pois que toda a verdade está afinal contida no Silêncio.

O que teremos de tão importante para dizer, a alguém que encontramos no cenário de um pôr-do-sol resplendoroso, para interromper um pensamento?

O que teremos de tão importante a partilhar, que não se saiba já contido no conhecimento que temos de quem nos está próximo, que permita interrompermos aos gritos o quebrar das ondas ao fundo da falésia?

O que nos faz erguer a voz contra o murmúrio do vento?

Nada do que dissermos poderá conter tudo o que o Silêncio transporta.


O que será mais importante que a partilha da imensidão dos nossos silêncios?




© CybeRider - 2009

8 comentários:

Pepita Chocolate disse...

Costuma dizer-se que uma imagem vale por mil palavras. E um silêncio, por vezes, também! Mas nem sempre os silêncios são bons. E silêncios conciliados com olhares, por vezes confundem mais, que as palavras.
Esta dicotomia silêncio/palavras deve existir a par; nem só uma, nem só outra. Ambas são necessárias, no tempo certo, no momento exacto, no espaço oportuno!
Esta tua densidade de palavras que aqui colocas, quase me deixou aqui em silêncio. MAs como o silêncio não me satisfez no seu todo, ocupei o espaço com palavras!

CybeRider disse...

E fizeste muito bem Pepita. O teu comentário trouxe talvez um equilíbrio que me faltou ao conceito. Se não fosse ele pensaria até que tinha razão, e essa poderia ser a última vez que usaria palavras, por acreditar que todos compreenderiam no meu silêncio tudo o que tinha para dizer. Vou acreditar que, apesar de muitas vezes ambíguas, as palavras partilham mais que os silêncios.

Ogre disse...

Por vezes quem cala consente, e nem sempre podemos consentir que nos calem...

CybeRider disse...

Oh Ogre! Isso é que nunca! A minha ideia era mais calar-me a mim sózinho, que me farto de dizer disparates que não traduzem o que sinto, mas sem dúvida que as verdades são para se dizer. Sempre! :)

Gemini disse...

"..., pois que toda a verdade está afinal contida no silêncio."

"... Nada do que dissermos poderá conter tudo o que o silêncio transporta."

Que registo GRANDE!

Deverei calar mais a minha voz, a minha caneta, e o próprio som dos meus dedos, nas teclas de um qualquer computador...

Farei, ainda assim, (em baixo) o comentário, justo, que esta obra (prima) me merece:

(
!)

E muito "mais" teria eu ainda a calar!! ;)))

CybeRider disse...

Olá Gemini!
Tu não te cales pá!
Olha que eu sou um exagerado.
Repara: se me tivesse calado, teríamos partilhado aqui um silêncio...

O problema é que o mundo não é a preto e branco. É a cinzento. As cores só resultam na artes.

Estou em crer que esta teoria dos silêncios, que também abordaste, só se aplicaria num mundo perfeito, e afinal o que é isso?...

Abraço!

Gemini disse...

CybeRider, adoro estar na minha companhia! Só há relativamente pouco tempo compreendi, que esse facto se deve (muito) a tudo quanto o silêncio me diz nessas horas!

Abraço!

CybeRider disse...

Pois, Gemini... O nosso silêncio pode ser um conselheiro, mas olha que nem sempre será o melhor... Podemos não ter a capacidade suficiente para ouvir tudo o que ele tem para dizer, a nossa atenção também se divide em simultâneo por outros sentidos e isso provoca ruídos que cortam o silêncio.

No entanto tem-me ajudado. Mas só conto um bocadinho de cada vez... :)

Abraço!