sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Pacto

Sei que o fiz.

Quando tenho tudo o que quero, mas nem tudo o que preciso. E quando tudo o que preciso é muito menos do que o que tenho. E quando não consigo deveras querer aquilo que precisava, porque este é afinal o limite.

Sei que o fiz. Quando todos os caminhos apontam apenas numa direcção e passo pelas encruzilhadas sem as conseguir ver. Quando todos vibram de felicidade partilhada e não os posso seguir porque tenho de ficar aqui à espera de mais um dia. Quando o Sol me entra pela janela enquanto os outros passam à chuva. E também nos dias em que a chuva cai só para mim.

Sei que o fiz. Quando os que amo ficam infelizes pela minha falta de escolhas. Quando me dão bons conselhos que não me atrevo a seguir. Quando penso nas opções que tomei e compreendo que foram contra tudo e contra todos. Quando as linhas do comboio são um caminho para o infinito a que teimo em resistir. Quando perco o medo de andar de avião.

Sinto-o também quando abraço quem amo, e quando lhes vejo as lágrimas da infelicidade que espalho sem querer, sem escolha. Em cada dia que passa sem projectos. Quando os vejo para lá das chamas da desilusão a caminhar para longe. Quando muitos deles já não são mais que um punhado de fotos amareladas ou algumas memórias que se dissolvem no tempo.

Sei que o fiz, quando me confronto com o dedo que me acusa da pálida sombra que sou daquilo que planeámos para nós.

Não houve cortes, nem velas, nem sangue. Não vi o humanóide com cabeça de bode, mas sei que o fiz. Manchou-me a alma como uma bênção do céu. Imperceptível. E perante todas as escolhas da vida, aceitei poder tocar a felicidade, sem perceber que por troca tudo me ficaria sempre à simples distância de um sopro.

E ainda assim valeu a pena, por ter podido amar e ter podido estar tão perto da plenitude.

E sei que é para sempre, por cada dia que não se repete.


Mas sei sobretudo, que se o quebrar perco tudo o que conquistei.





© CybeRider - 2009

6 comentários:

Pepita Chocolate disse...

Anda por aqui tristeza...paira mesmo sobre a tua cabeça! esperava-te mais alegre! De sorriso nos lábios...e dou com isto! nem te comento!
Sabes, nunca se pode querer o melhor de dois mundos! e parece-me que somos marionetas na mão do destino! Até que uma linha se parta, ou tenhamos a magia de Pinóquio, um boneco de madeira que virou rapazinho!
Vá, cura lá isso e põe cara alegre!

Beijoca!

CybeRider disse...

Um pacto é sempre um acordo de vontades. Exímios como somos em escolhas optamos sempre pelo caminho certo. Nem sempre é o mais fácil. Quando as melhores opções são duras de aceitar, imagina as piores. Encarar os factos é a melhor forma de os ultrapassarmos. As tuas palavras são uma boa panaceia.

Beijoca!

the dear Zé disse...

Fod*** meu. Mais coisa menos coisa e estou aí nesse texto. O pior é que não me lembro de ter assinado nada, nem com tinta nem com sangue, nem com cuspo.
Às vezes a vida é um megera e deus uma anedota de mau gosto...
Restam os nosso, amigos e amores, por vezes com um acre sabor quando pensamos que...
Que se lixe, fica bem. Abraço.
Z

CybeRider disse...

Epá, Caçador, e eu que contava contigo para dares um tiro nos cornos do gajo e o levares para a tua brilhante sala de troféus. Agora é que me lixaste...

Abraço

:)

Mário Rodrigues disse...

também li.

CybeRider disse...

Também te agradeço esta visita.