Dou mais uma volta, agacho-me, ponho outra pedra na boca.
Há outros. Andam por aqui, às voltas, como eu.
Vermelhos, azuis, verdes, a maioria cinzentos - bolas... Acho que não posso falar das cores, ainda alguém diz que não gosto deles, que me considero... - grandes, pequenos. (Cuspi a pedra.)
É tudo tão bonito lá fora! Aqui andamos todos às turras. À espera que a comida, como de costume, nos caia do céu; hoje ainda não veio. Tem havido atrasos... Mas quando cai fica tudo bem. É um "fartar vilanagem". Nunca como muito. Fico com digestões difíceis. Mas gosto de ver os comilões, encher o bandulho, pode ser que assim não me comam a mim.
Acho que andamos todos com vontade de saltar pela borda. Mas só de pensar nisso parece que me falta logo o ar.
(Ponho outra pedra na boca...)
Olha! Um tubarão frade... Estes é que a levam na boa. São tão grandes que nada lhes toca. Nadam por aqui, às voltas, como quem quer formar um cardume, mas acabam por nadar sozinhos na sua magnificência. Não adianta esperarmos ajuda. Aquele corpanzil dá-lhes pouca agilidade. Há quem diga que são inofensivos. Acho que consomem muito oxigénio. (Volto a cuspir a pedra). Ouvi relatar casos de cardumes em transe por terem ficado com pouco oxigénio no cérebro.
Têm cá aparecido muitos peixes-palhaço. Esses é que ainda vão animando isto com o seu colorido. (Lá estou eu com as cores...) Dá gosto vê-los, às corridas, aos saltos, enquanto a comida não chega.
Invejo o peixe-lua. Feio e lentinho, não se importa com coisa nenhuma. Fica ali a meia-água, abrindo e fechando a boca. Sem se queixar, sem comentar...
Espantam-me os atuns. A velocidades incríveis. Cardumes maciços que voam por aqui sem olhar a pormenores. Batem sempre no vidro, mas continuam a correr, malucos, como se nada fosse.
Têm cá posto também muitos peixes-escorpião; demasiados. Têm um veneno muito intenso. Podem paralisar-nos em segundos. Há que nadar mais ao largo... Não fazer muitas ondas, até porque se as fizermos entornamos o resto da água e ninguém se safa, que já vai havendo pouca.
Olho para o céu, logo ali a centímetros. Tão prateado... Parece uma folha de alumínio. Se calhar é...
Vou até ao vidro. Por vezes vêm aqui dar pancadas, como se pensassem que podemos sair. Ou para brincarem connosco... Parecem dizer que lá fora é melhor. Não sei... Nunca lá estive. As pancadas fazem-me dor de cabeça. De resto, tenho medo que me falte o ar...
Vou até ao fundo. Está sujo... Não nos limpam isto, nem mudam o areão. Como é que se pode viver nesta pocilga? Alguns de nós é suposto comerem a porcaria dos outros. Não sou desses especialistas, limito-me a olhar enojado. Até quando?...
Um dia destes ainda descruzo as barbatanas. Vão ver!
Amanhã!
Se vierem os tubarões-martelo, pode ser que com umas marteladas...
(Ponho outra pedra na boca...)
© CybeRider - 2009
2 comentários:
Ainda pensei, ao princípio, que estavas a falar do congresso do ps, com a entrada em cena dos tubarões...
Ui! Um tanque cheio de peixes-palhaço, peixes-escorpião e tubarões? Vou-me lá meter nisso? Uns distraem-nos outros ferram-nos. É de fugir!
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