Nasci no tempo em que a popularidade era determinada de forma totalitária.
Víamos o que nos mostravam. Ouvíamos o que podíamos ouvir. Dizíamos o que nos deixavam dizer. Era popular o que podia ser e sobretudo quem podia ser.
Alguns dos mais aplaudidos hoje foram muito pouco populares então. Respeito-os em parte por isso. Sem esquecer que as possibilidades de adquirir popularidade hoje em dia são mais vastas pelos determinismos que alguns então defenderam.
Alguns ancestrais detentores de grande popularidade sobreviveram à mudança e mantiveram índices de popularidade elevados. Souberam agradar a gregos e a troianos ou tiveram a habilidade de não remar contra a maré do regime de então, o que se traduzia numa das formas possíveis de conquistar a almejada popularidade.
Numa altura em que podermos manifestar-nos de forma quase incógnita e abrangente é um dado adquirido e um direito incontestável para muitos, e antes de pensarmos que istoestátudoàderivaesóumpunhofortedarácontadisto, talvez seja o momento de reconhecer que a nossa sociedade continua a ter mecanismos de regulação ética e comportamental.
Além dos óbvios, meras ferramentas importadas de outros regimes e sociedades - nomeadamente a lei imposta que cerceia a querida liberdade, as forças de segurança que, necessárias e incontornáveis, nos recordam por vezes excessos de outros tempos - todas debatidas em muito por outros, saliento a que se me afigura mais importante e talvez menos evidente de todas as formas de manter o controle da sociedade, e por isso esquecida.
Em democracia pura, os poderes (governativo, legislativo, executivo, judicial) dos governantes pertencem por definição aos governados. E quase seria possível governar em pé de igualdade com os regimes totalitários não fora a ausência da censura.
No entanto ela existe. Não me refiro às escolhas e aos vícios que hoje também determinam o que vemos, ouvimos e -pasme-se- consequentemente dizemos. Refiro-me a algo muito mais selvagem e abstracto. A Popularidade!
Em democracia o popular é aceite e o impopular recusado. Ah... Se os nossos governantes pensassem nisto... A nossa sociedade era o nosso paraíso. Por outro lado, agora que reparo... A maioria dos portugueses é mesmo muito pouco popular...
© CybeRider - 2009
2 comentários:
Por coincidência, o meu post de hoje também fala de censura. Parece que as rolhas voltam e estar na moda, ou melhor, nunca de lá sairam.
É verdade, foste adicionado à lista de humanos tolerados pelo Ogre.
Pois... Acho que agora reparamos mais nelas.
Ena pá! Inda agora comecei e já tenho um prémio! Fico grato pela subida honra.
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