Essa panaceia de ansiedades é para mim uma tormenta de aflição.
Olho para o meu saco de certezas e só encontro relativas.
Uma certeza absoluta está para as minhas convicções como o euromilhões para a minha carteira, e acho também que as hipóteses de algum dia vir a ter uma ou outro são as mesmas.Para mim chega-me ter certezas; estou sempre disposto a avaliar a sua precisão e faço-o com frequência. As absolutas é que são uma chatice; com este epíteto deixam de ser passíveis de verificação, de pertencer ao reino do questionável, para se tornarem em dogmas que nos subjugam.
"-Ah! Mas as relativas não são certezas" dirão os puristas.
Pois as minhas são!
E justifico-as das dúvidas razoáveis com o seguinte argumento:
Uma dúvida razoável é algo efectivamente parecido com uma certeza relativa, enquanto aquela porém padece de um menor grau de verificabilidade e elementos de prova, esta é facilmente comprovável; embora na maioria das vezes nem precise de o ser pela sua evidência.
Assim, tenho a certeza relativa de que a minha morte é certa. Mas tenho a dúvida razoável de que tal venha a acontecer. Se por um lado é fácil de provar que a minha morte é certa, bastando para isso pôr um baraço ao pescoço e demonstrá-lo, por outro gostaria que alguém me apresentasse provas concretas de que cá ficarei para sempre.
Assim são as minhas certezas. E nesta medida, sempre que ouço alguém afirmar que tem a certeza absoluta de alguma coisa sinto que há coisas na vida que estão destinadas a bafejar alguns mas às quais o acesso me está incondicionalmente vedado.
Sinto-me vilipendiado nos meus direitos. Atingido na minha sanidade mental.
Por isso persigo, por vezes com bastante determinação, algumas certezas absolutas chegando nalgumas dessas aventuras a sucessos incontestáveis.
Tenho a certeza que hoje me chamo António, até que ponto com os acordos ortográficos não me chamarei, afinal de contas, João?
© CybeRider - 2009
Sem comentários:
Enviar um comentário