Xk45670 segurava na mão imóvel um pequeno papel ressequido.
O olhar emitia um brilho avermelhado.
O cérebro, a uma velocidade vertiginosa, processava milénios de informação trocada, repartida, reunificada, destilada, organizada num conglomerado de nanométricos favos de colmeia.
Olhei melhor. O pequeno papel era afinal uma fotografia... A minha fotografia.
Xk45670 dirigiu-se à janela. O olhar azul captou a linha do horizonte. Lá em baixo o deserto metálico estendia-se a perder de vista.
Ele sabia que HZ54638 estava apenas a segundos de distância. Viu-a chegar, tocar com os pés no solo metálico estranhamente natural, o revestimento cromado do seu corpo mudar de cor, libertando uma pequena nuvem de poeira cósmica.
O jacto de nitrogénio líquido repôs os valores térmicos normais que restabeleceram as funções cerebrais aos habituais 100%.
A escuridão eterna circundava o vasto mundo gelado, seco, esterilizado, que reflectia apenas alguma radiação do espaço.
Ela entrou no quarto sem luz. Ele dirigiu-se a ela sem palavras. Há muitos séculos que todos comunicavam de outra forma. Agora a vida eterna era uma questão de peças em stock, o tempo e a história não faziam sentido.
A conquista de novos planetas hospedeiros era finalmente uma realidade que a nossa frágil biologia nunca tinha permitido enquanto infectáramos a Terra na nossa forma carnal.
Cada um era agora detentor de todo o saber humano acumulado. A maioria das ciências que conhecêramos era-lhes porém inútil. As artes, manifestações sem sentido. As causas defendidas e guerras travadas, totalmente indecifráveis de causalidade. Não havia governantes nem governados porque todos tinham exactamente os mesmos conhecimentos e consequentes poderes.
Uma pequena caixa pairava como que por magia. A seu lado uma pequena esfera de terra estava também assente no espaço.
À pequena luminosidade que emanava da janela vi-o colocar a minha fotografia na pequena caixa e recobri-la com a terra, que facilmente se moldou à clausura, como quem guarda uma relíquia antiga de um ente querido. Numa das paredes, completamente vazias, abriu-se uma tampa e a pequena caixa transparente deslizou para o encaixe perfeito no espaço agora criado.
Sem sentimentos, a pequena lágrima que lhe rolou pela face era inexplicável. Teria de mudar o retentor que vertera a gotícula.
Acordei com um estrondo.
Ainda não compreendo como é que a torradeira foi atravessar o monitor do computador.
© CybeRider - 2009
3 comentários:
Andas a ver wall-e a mais. Está-me cá a parecer...
necessario verificar:)
Voltarei, Anónimo. Nem que seja só para isso.
:)
Enviar um comentário