Aparecia, dizia-se, embutida nas metragens cinematográficas e tinha a assaz bizarria de conduzir multidões ao bar, no intervalo, para pedirem por exemplo a sua Coca-Cola.
Que nessa altura a sala de cinema era adequada até a cinéfilos; não havia cá esta coisa de comes-e-bebes-quando-quiseres-porque-foste-de-alforge-carregado-para-o-cadeirão. Não! Tal disparate não passaria pela cabeça do mais incomum dos mortais. Nem passa hoje pela minha e sou, acredite-se, bastante vulgar.
Mas também havia naquela altura muito de subliminar no nosso dia-a-dia, que entretanto desapareceu com as mudanças políticas.
Havia, por exemplo, um conceito subliminar de democracia que por algum factor sobrenatural tendia a manifestar-se com mais frequência nos estudos universitários. Daí que houvesse uma tendência -também ela subliminar, mas generalizada- de terminar os estudos antes dessa fase.
Por outro lado desde a mais tenra idade eram-nos mostrados, subliminarmente entenda-se, todos os vícios e parafilias que pudéssemos imaginar. Essas pequenas e imperceptíveis mensagens chegavam-nos mais exactamente pelos contos que os nossos pais nos relatavam para adormecermos, ou que começávamos a ler logo que decifrássemos as primeiras letras.
Haverá conto mais sangrento que o do Capuchinho Vermelho, em que o lobo chacina a avó? Haverá coisa mais horrível que a situação das comatosas Bela Adormecida e Branca de Neve? Aquela num transe alucinatório profundo depois de picar o dedo na roca -nem que aquilo fosse uma seringa de morfina! E a outra, ainda por cima vítima clara de estupro por parte do Príncipe Encantado, que a beija numa situação de clara incapacidade; sem chegarmos nunca a tirar a limpo qual a real natureza do estranho mas duradouro relacionamento com os laboriosos anões?
O masoquismo de Cinderela, que nem depois de se saber favorita queria deixar a madrasta e as irmãs sádicas? Lá está! Sempre a mensagem subliminar, eternamente imperativa e inquestionável.
Qual era mesmo a outra que tinha de beijar um sapo? Então isso não é bestialismo? Alguém imagina nos nossos dias uma garota simpática a beijar um cão, um cavalo, ou um porco? Claro que não!
Que mensagens se pretendia passar com estes contos? Obviamente a clara intenção de nos tornar nos cruéis e embrutecidos lutadores da guerra de África e adjuntos familiares e amigos.
Daí que às pessoas da minha geração devesse ter sido administrado um curso de viabilização social, para nos integrarmos com mais facilidade nos tempos modernos. Uma pensão de invalidez automática também não seria má ideia.
E já agora aquele Batman e o Robin? Nunca me enganaram!
© CybeRider - 2009
2 comentários:
Os mitos nunca mais voltaram a ser os mesmos, desde que os cowboys foram revelados em Brokenback Mountain.
Tens cá uma imaginação... efim... como dizer...?
Essa coisa dos bichos...
Creio que há aqui 2 coisas diferentes: uma são a histórias tradicionais que os nossos avós contavam, vêm lá muito detrás; outra, são as dos livros de escola do salazar, a (de)formar meninos para a nação.
É claro que em comum procuram ser histórias de proveito e exemplo, tal como a publicidade...
Há muitas maneiras de passar mensagens, os pombos-correio é que passaram de moda.
Abraço
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