terça-feira, 28 de abril de 2009

Fútil

A HORA DO CHÁ

A senda do ser
É um fio estreito da tua blusa.
Duas pitadas
Da areia mais pura do deserto
Dissolvem-se no teu chá:
Mar morto juncado de cadáveres
Importados da Índia.

Uma pele manchada de natureza
Escorre-te pelos braços nus, agora quentes
E um rafeiro de tédio
É um nó bocejante a teus pés,
Leitosos, tratados, de garras limadas
A tinta escarlate.

As cinco horas queimam-te os dedos
Na porcelana de renda.
O cheiro a nostalgia
Enche-te o salão sonante
De claves de piano;
A sensualidade
Brota-te dos poros, humedece-te
Queima-te a pele nívea, agora rósea.

E tu, flutuas nas florais borras
Do teu chá
Sem gosto,
Adormecido.



© CybeRider - 2009

8 comentários:

Pepita Chocolate disse...

Bem... é por estas e por outras, que me apercebo que não tenho jeitinho nenhum para poesia.
Poesia não se comenta, sente-se!E chamas-lhe tu, fútil... acredita que existem frases brejeiras a que chamam de poesia! ;)
Eu chamar-lhe-ia um pedaço de mau gosto...aqui, chamo-lhe poesia, porque afinal é isso que me parece que seja- eu, que pouco percebo de palavras destas; o meu estilo é mais texto corrido e não pausas de silêncio, como na poesia.
E é sempre bom ler, quem escreve fantasticamente diferente de nós!

Um bom dia para ti!(com ou sem chá!)

CybeRider disse...

Obrigado Pepita, mas "poesia" é o que vibra dentro de nós quando as palavras se conjugam de forma harmoniosa. Nem sempre com o mesmo sentido para cada um, mas o objectivo é criar sensações e ligação entre momentos e ideias. Estas pinceladas, que não dizem muito a alguns, para mim são de facto poesia pelo que me despertam, não pelo que simplesmente se lê.

Um bom dia para ti, que me aqueceste esta xícara.

Caçador disse...

Vai-te lixar mais aos telentosos dos meus amigos e sei lá que mais... se eu fosse capaz de escrever assim, arrumava a máquina fotográfica.
Vêmo-nos em breve, sexta ou sábado, jantar, ok?
Abraço.

CybeRider disse...

Perspectiva curiosa Caçador. Soubesse eu fazer o que fazes com a máquina e escusava de me perder nestes devaneios. Acho que não ficou tão bom ao ponto do teu convite. Mas razões mais fortes há concerteza. Já estou a afinar o GPS para concretizarmos isso. :)
Abraço.

Nirvana disse...

Tudo menos fútil...
A poesia vem cá de dentro. É preciso jeito, é certo, mas principalmente é preciso sentimento. Uma das características mais fascinantes da poesia é o facto de as mesmas palavras poderem significar coisas tão diferentes para quem escreve, para quem lê...

Um bom chá, a qualquer hora :)

PS- Espero qu não te importes de adicionar este blog no meu :)

CybeRider disse...

Nirvana, agradeço-te a visita e a opinião, que também partilho.

Faz desta uma das tuas casas. Como vês o ar é modesto, mas é puro.

As caixas de comentário são abertas. A adição que referes (que óbviamente me lisongeia) é livre também.

:)

Nilredloh disse...

"Mar morto juncado de cadáveres
Importados da Índia"

Isto lembra-me Camilo Pessanha.

Um abraço,

Jorge

CybeRider disse...

Camilo Pessanha, muito génio!

Quem me dera!

Outro para ti, Jorge!