O Casanova? Tampouco!
Conquistador houve um: O Afonso!
Compreendo finalmente a razão de se ter estudado tanto sobre o Afonso, que nunca houve tempo de fazer chegar os programas de História sequer à Implantação da República, quanto mais ao Estado Novo. Mas sobre o Afonso... Qualquer falha nos enviava a anátema das Orelhas de Burro. Ainda hoje! Não saber da briga com a mãe; das zangas com os primos, filhos da Ti Urraca; do espadalhão de ferro bruto...
Correndo o risco de ficar para sempre no imaginário das crianças, num nível equiparável ao Mandrake ou ao Fantasma (traduzido para o século XXI, qualquer coisa entre as Tartarugas Ninja e o Incrível Hulk), não havia ano lectivo em que o Afonso não fosse abordado com pompa e circunstância.
Pelos vistos naquela altura a população não se dividia em 50 - 50. Estavam todos com ele. Melhor que numa maioria absoluta do parlamento. Todos convenceu que os aromas de Espanha não nos viriam a entusiasmar.
Sem abrir mão do Presunto de Chaves em favor do salpicão Revilla, nem da desfaçatez da paella face ao arroz de grelos com biqueirões, batalhou, batalhou, seguiu os cheiros afastando-se dos maus ventos, e pronto. Ficámo-nos adormecidos 900 anos.
Que laços de amor podemos nós traçar com a nossa cultura menos ancestral? Que heróis de referência encontramos no nosso passado mais próximo que lhe possam chegar aos calcanhares; à pele grossa das plantas; às palmas encortiçadas, como côdeas de casqueiro; à tez bronzeada pelas constantes incursões pelas planuras e montes lusitanos?
Até o cognome lhe atribui à partida o afecto de bem mais de metade da população inteira duma assentada. Nem tanto dos homens por despeito, mas dos restantes, por desejo.
Imagina-se-lhe logo o perfil sedutor, o bigode retorcido, o sorriso mariola, a figura escorreita e viril no topo da cavalgadura.
Ah! E o escudo! O escudo... Um bocadinho afinal da nossa identidade! Onde já se viu alguém escudar-se por detrás de um euro?...
Que Governo pode competir com isto?
Sem popularidade q.b., limitam-se a agradar a metade duma minoria. O desencanto, o desespero, afasta os restantes (chega-se a ouvir os seus suspiros nos dias de escrutínio) que, com razão, não querem saber de imitações e insistem na continuada busca duma referência.
Vá lá que temos o D. Sebastião que há-de vir a pôr ordem nisto.
(Que alguém lhe peça é que não traga o escudo. Para pior já basta assim...).
© CybeRider - 2009
3 comentários:
"Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por Dom Sebastião,
Quer venha ou não!"
http://photomelomanias.blogspot.com/2009/02/o-melhor-do-mundo.html
o que eu estava procurando, obrigado
Talvez deva ser eu a agradecer pela informação de que alguém encontra aqui a satisfação de um objectivo.
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