Não a conhecia. Não peguei na mão que me estendeu.
Fui o último a sair da escola.
Já lá vão quarenta e tal anos. Nunca me esqueci.
Aos meus sete ou oito anos, uma figura feminina pretendeu desta forma violar um dos cânones que enformam o meu início de ser humano. Quem a mandou não se lembrou dos meus ensinamentos; ela não previu aquela consequência; eu limitei-me a cumprir ordens (onde é que já ouvi isto?...).
Foi a minha primeira lição de como o "mero cumprimento de uma ordem" nos pode trazer consequências nefastas.
Ostracizado no recinto de recreio cheguei a temer o pior. Que tivesse sido a derradeira chance de sair dali, que a minha interpretação do comando pudesse ter estado errada, enfim, de tudo me passou pela cabeça.
Senti que a minha decisão me tinha deixado cimentado àquele terreno para o resto da minha tenra vida. -Mas não arredei pé! Afirmo, a justificar o meu impasse.
As lições de isolamento são talvez as que mais perdurem. Talvez por isso a prisão seja a medida justa para os piores (de)feitos. Ou quiçá o legislador tenha sido também o último a sair da escola há muitos anos.
Raramente aquela (então) jovem terá feito tamanho esforço para ter uma companhia e, ainda assim, sido tão rotundamente rejeitada. (Espero eu, sinceramente.) A aparente tentativa de sequestro fora afinal o desejo imenso de cumprir uma missão.
Não consigo imaginar como isto terá afectado as nossas vidas.
Para mim: os louros carcomidos de uma vitória sobre um pretenso inimigo, que mais não era que uma vítima inocente do campo de batalha.
Para ela: uma derrota retumbante perante um adversário que, por definição; armamento; capacidade estratégica; entre outras razões óbvias, não estava à altura.
Estes embaraços em campanha geram decerto inúmeras vitórias e heróis que o não são pelos apanágios do beligerante, senão por meros circunstancialismos e formas de olhar para o território agreste à sua volta.
Ainda hoje justifico alguns "impasses". Muito poucas vezes me limito a cumprir ordens; procuro e prefiro encontrar formas consensuais de atingir objectivos.
Continuo a seguir o proverbial conselho de não ir com estranhos. Tento conhecê-los antes de ter de os acompanhar.
Em relação à senhora... Não iria com ela à mesma. Mas tinha-lhe pago um cafezito.
2 comentários:
Chamam a isso blind date. Às vezes até resulta.
Menos com Ogres.
Isso é que tinha sido um título!
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