quarta-feira, 4 de março de 2009

2ª Escolha

Nunca compro produtos de segunda escolha.

Se me esfolo para ter uma moeda para trocar por qualquer coisa, ao menos que seja de qualidade.

Não que saiba muito de qualidade... Na verdade sei lá qual é a qualidade até chegar a casa, abrir o que comprei, e concluir por fim que o meu produto de Primeira Qualidade é afinal uma trampa.

Mas a publicidade tem essa magia. Diz que é bom e a gente compra.

Compra... Desde que não seja de segunda escolha. Até as coisas em segunda mão nos são preferíveis aquelas.

Um produto em segunda mão nasceu imaculado. Teve um percurso de utilização, e estará possivelmente capaz de ser ainda bastante usado. Pode até estar gasto, ter adquirido algumas mazelas, mas nasceu perfeito e são.

Já o de segunda escolha... A definição denota logo à partida que nasceu inquinado. Tem um defeito qualquer que o diferencia dos outros. Mesmo para os progenitores que o fabricaram é um enjeitadito.

Este erro de génese leva ao estigma do seu destino. Ou se transforma em algo diverso ou nunca poderá ocupar o lugar da estante ao lado dos portentosos irmãos, nem atingir o mesmo preço.

Tem um erro. Mesmo que os produtos idênticos, entenda-se, possam continuar a ser uma trampa.

Ora, errar é o que nos torna humanos. Logo, cartesianamente, se não tivermos o factor erro, somos decerto outra coisa que não humanos. Ou somos inquinados para nos indiferenciarmos ou por outro lado seremos diferenciados se não tivermos o tal erro. Logo a perfeição é-nos vedada.

Tenho andado enganado. Descubro hoje, afinal, que somos produtos de segunda escolha.

Lastimo, em consequência, que exijamos constantemente dos nossos pares uma conduta sem erros.

Procuramos o impossível!

A partir de hoje, nunca mais critico ninguém. E dou aqui início à busca do alguidar de onde me separaram, onde estarão os de qualidade que quero conhecer.

ONDE É QUE ESTÃO "OS OUTROS"?




© CybeRider - 2009

4 comentários:

Ogre disse...

E não te esqueças dos produtos "brancos". Os anónimos. Os que não têm direito a uma identidade/rótulo próprio. Vestem o uniforme de outros e invadem as prateleiras como se fossem alguém.
Este fim-de-semana, Espinho estava cheio deles.

CybeRider disse...

Ora aí está uma boa razão para "branco" me lembrar logo carneirada.

Como sabes sou mais do tinto cheio!

mfc disse...

Os teus textos dão felizmente que pensar!

CybeRider disse...

Aquem o dizes mfc... A quem o dizes... Obrigado, mas a inspiração dos teus artigos garanto que ajuda.