quarta-feira, 18 de março de 2009

Cantiga de amigo

Dedicado a todos os que sabem que sei que eles sabem que sou e que são


Na lírica medieval do norte da Península Ibérica, surgiu uma moda poética cantada por jograis em que os temas, escritos por homens como se saíssem das bocas de mulheres, tinham como tema o erotismo feminino isento de amor físico.

Ora se a Rita Lee estiver certa, e o amor sem sexo for de facto amizade, nada nos impede nos dias de hoje de cantarmos nós próprios as nossas cantigas, sem que soe muito abichanado colocar as nossas palavras na nossa própria boca, que é afinal onde elas pertencem.

Exercitando o que disse, vou declarar sem medo que todos os meus amigos têm um dom.

Para além da notabilidade implícita ao facto, nos tempos que correm em que sagra a mediocridade humana, poderá causar estranheza esta súbita destrinça de super-heróis, porque disso se trata.

Podíamos imaginar que fossem saídos de uma mesma família, com a mesma tipologia de poderes sobrenaturais, mas não... Cada um tem um dom particular que o identifica imediatamente dos outros, o que torna tudo ainda mais assustadoramente singular.

Por isso, quando estou com os meus amigos, acho-me sempre bastante modesto. Não fui bafejado pela sorte de ter um dom como eles; deveria por isso ser mais tenaz e persistente com algumas qualidades mais mundanas. Mas, também não...

Desencantadoramente, fico tomado de uma inexplicável languidez e bem-estar que parece tolher-me os movimentos e deixar-me sempre tropegamente sentado na cadeira. Mesmo quando o ambiente é de festa e todos participam na elaboração de um manjar de reis... Ali fico, com um sorriso aparvalhado, a vê-los deslizar com elegância à minha volta.

Chega a ser irritante!

Daí que não perceba o que acaba por fomentar a nossa amizade. Mas claro que a resposta é óbvia: é a grande qualidade que lhes é inerente que acaba por dar o mote à sua enorme tolerância.

Isto torna-os a todos ainda mais magníficos. E a mim ainda mais espantado.

Homens e mulheres de palavra, ainda somam a todas essas uma qualidade: é que eles próprios não fazem cantigas de amigo.

Falo sobretudo daquela que começa por "Emprestas-me 100 paus?..."

Sou mesmo um tipo cheio de sorte!




© CybeRider - 2009

4 comentários:

Chapa disse...

Olha os direitos de autor!

CybeRider disse...

Pelos sentimentos também já se começou a pagar? :)

Obrigado Chapa! Bem hajas!

Anónimo disse...

Sorte têm os gajos que tu consideras amigos.
Disse.

CybeRider disse...

Ainda bem que não disseste muito alto. Se eles atinam poem-me a mexer.