Não é com particular desagrado que recebo a visita de associações de caridade no meu local de trabalho. Chego mesmo a reservar para algumas um módico cheque anual, porque até acredito que possa ser por uma boa causa e sinceramente nunca me ocorre algo de mais construtivo a indicar. Afinal de contas, a finalidade da sua presença são eles que ma indicam: mais um peditório...
Alguns são caras já conhecidas, cumprimentamo-nos como amigos, que afinal ainda não somos, e sento-os sempre diante da minha secretária (aquela coisa de madeira com papéis em cima, entenda-se).
Depois de uma amena cavaqueira, a que os nossos sorrisos dão melhor entendimento que o próprio teor da conversa, e a escrituração do pequeno papel, acabam por me deixar prosseguir as introspecções e partem sempre com um até breve que a cada vez desejo mais longínquo.
Não foi o que aconteceu hoje.
Mantivemos os sorrisos, a disposição das cadeiras, e expliquei-lhe que afinal andamos todos ao mesmo, variando a indumentária pouco nos distingue, ele como eu com família para alimentar, e no entanto com uma diferença fundamental: para ele não existe saldo negativo: Ou há..., ou não há! Já no meu caso... Cada dia que passa projecta um abismo do qual poderei não saber sair. São os compromissos bancários, o fisco, rendas, taxas camarárias, combustíveis, fornecedores, enfim aquele rol do costume. Falei-lhe da situação internacional que me priva de clientes. Mostrei-lhe as desvantagens de um mercado altamente competitivo, e aí traçámos ainda algumas queixas. O olhar entristeceu-se-nos, cabisbaixos partilhámos mesmo um curto silêncio...
E garanto, que lhe antevi um pequeno trejeito da mão em direcção à carteira. Não fosse o telefone ter tocado...
Despedimo-nos, com um novo "até breve" mais magro que o habitual para ele, menos doloroso para mim. E pensei com os meus botões: "Estás a ficar bom nisto, rapaz! Um dia destes... "
Não há dúvida. A necessidade aguça-nos o engenho!
© CybeRider - 2009
8 comentários:
Ainda nem li o teu post- acabadinho de postar. Tenho andado a cuscar por aqui e tento colocar-me nos seguidores e isto passa-se! Será mau prenúncio?
Já cá volto!
Beijoca!
Sim, a crise tem sido motivo para tudo e mais alguma coisa! O pessoal da pedincha pensa que temos de dar para tudo e para nada...se eu fosse a dar para todos os que me pedem, ficava depenada!
Aparte isto, duas notas:
- acho que escreves maravilhosamente bem!(quando gosto, faço questão de dizer!)
- eu não censuro os meu comentários, até porque nunca rejeitei nenhum. Mas gosto de ter o prazer de os ler, um a um, à medida da sua chegada, ainda em privado! E só depois partilhar com outros!Se fosse o contrário, quando chegasse perdia parte da piada que que acho que tem! Assim, uns não influenciam outros! E apesar do blog ser meu, o espaço dos comentários é inteiramente de quem comenta. Não meto lá o nariz! É vosso, somente vosso!Prefiro responder depois em cada um dos vossos posts se tiver algo a dizer! se não tiver, calo-me!
Já me alonguei e a esta hora, com tanto blablabla já dormes!
Beijoca!
Olha Pepita, são palavras como as tuas que me dão força para colocar aqui o que a inspiração, aos poucos, vai ditando. E é principalmente o debate de controvérsias que me atrai, bem mais que os fáceis consensos. Aceito a tua posição, que já respeitava, relativamente às caixas, daí promover o teu Queque de Chocolate para o conjunto "Galope Desenfreado" onde adoçará o conjunto dos que me são mais queridos. Serás a excepção, pois todos têm caixas de comentário abertas, uma questão de princípio que defendemos por nada termos a temer e estarmos prontos a aceitar opiniões sem reserva, como é aliás o teu caso bem defendido. Que me perdoem os puristas, mas tu mereces esse respeito, pela simpatia e paixão que colocas na tua atitude e pelo carinho com que acolhes um novato como eu. Escusado será dizer que contas comigo reciprocamente como teu seguidor, com um grande agradecimento por essa energia que faz de ti uma autêntica força da natureza.
Beijoca!
Fico-te agradecida pelo teu apreço!
Confesso que agora fiquei sem palavras - algo raro, mas agora conseguido!
Resta-me apenas agardecer. Muito obrigado!
E voltarei, podes contar!
beijoca!
CybeCharme...
Ogre! Já te tinha adicionado, não fiques com ciúmes! :)))
Cyber como eu te compreendo. Pelos meus lados é mais na onda da comissão de festas ou do projecto para a escola, pois a nível associativo a empresa tem um plano pre-defenido para a lojas, onde elas podem fazer uma acção de recolha de fundos. Mas isto para te dizer o que, no ano passado pelas alturas do natal tive uma necessidade e decidi pedir uma ajuda a uma associação permitindo uma recolha de fundos pela parte deles e no final seriam "agradecidos" com uma oferta por parte da empresa, qual é o meu espanto que o sr que representava a dita associação começa a desbobinar um rol de "exigencias" finalizando com o valor a "ser agradecido" pois se assim não fosse não justificaria o empenho deles...
Como deves imaginar ainda espera pela resposta.
Sabes o que costumo dizer, "eu sou do grupo dos tesos dineiro para dar não tenho mas caso seja necessário estou sempre disponivel a ajudar com trabalho".
MV, isso dos "tesos" hoje em dia è MUITO relativo. Como deixei escrito, vivemos tempos em que quem vai pedir auxílio acaba por ficar com vontade de auxiliar.
Neste momento preferia provávelmente ter saldo zero a estar na situação em que estou, mas as responsabilidades para com os outros (que isso de mandar a malta para a rua é fácil de dizer...) obriga-me a entrar para a cova. "Morto-vivo" é uma boa definição para algumas situações, que não se poderão reverter a curto prazo. Vamos a caminho de uma economia de zombies!
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